APL 2600 História da Corte António Martins
Isto dizem que, eu conheci ainda além pedras e ainda há gente ai que conheceu mesmo parentes (…) e às tantas apareceu alguém ali, a viver ali. Naquela zona ali da Corte António Martins. E uma vez apareceu para ai o rei, os reis andavam passeando por ai vendo o que é que se passava, o que é que havia nessas terras. Mas nestes campos não havia nada. Eles quando se assomaram ali num caminho que havia ali, que hoje tem uma estrada, e viram além uma casa assim desviada, e ficaram assim a olhar, ele com a comitiva dele. Trazia os guarda-costas, essas coisas de carregar, malas e éguas, era o meio de transporte nesse tempo. E depois pararam e ‘tiveram a ver. Ás tantas começaram a ver além gente (…) vieram-se chegando, vieram-se chegando… também tinham medo. Não sabiam o que era. Lá encararam com um casal com dezoito filhos, filhos e filhas. Entraram essa casita e então eles depois estiveram ali “Boa tarde”, “Boa tarde” estiveram para ali a falar, depois as pessoas, pais e filhos, foram jantar e ofereceram comida a eles. Eles disseram “Não, a gente temos o nosso farnel ali, nos cavalos”.
Pois eles naturalmente ‘tiveram comendo alguma coisa. O que é que esta gente teria para comer? Alguns figos, algumas alfarrobas seria o que havia. Algumas ervas, nesse tempo o que é que era? Depois comeram. Lá a mesa era comum, não sei, onde se sentaram não sei. O que se conta é que eles comeram e depois de acabarem de comer ajoelharam-se e rezaram todos. Depois o rei disse: “Bom, isto é gente, isto aqui está gente em condições”. E no outro dia de manhã, foram à vida deles, no outro dia de manhã passaram por lá e disseram ao pai: “Bom, tu vais levar esta égua e vais fazer um círculo por onde tu quiseres. E vais aqui e pões um marco. Vais onde tu queres, pões outro marco. Vais assim marcando toda a parte por onde passaste.” Então o gajo foi com uma égua, ia aqui marcava com um marco, além a frente marcava outro, marcou tudo em redor até que chegou ali. Diz ele:
-“Então já marcaste por onde passaste, isso tudo?”
-“Sim, sim senhor rei já marquei isso tudo, está tudo marcado ai assim”.
-Então essas propriedades que tu marcaste, dentro desse círculo, esse é o teu terreno para cultivares, para trabalhares. É teu.
-Pois está bem.
-E agora tu vais ser (se calhar ele não tinha nome)… agora vais ser António Martins.
Isso o rei nas partes onde passava, aquelas propriedades que ele se dizia assim eram cortes. Punha-lhes o nome daquilo: Corte. Isto é uma corte… Corte António Martins. E depois ia para outro lado qualquer, passava por outro lado fazia a Corte Pequena, era a Corte tal… Muitas cortes que há, até muitos nomes com as cortes. E então era esse rei que passava, e outros reis também que passaram, outros tinha outra coisa… passavam como há aqui em baixo as sesmarias (…) Mas este era com uma corte, então esse ficou uma corte. E ele disse:
-Agora tu passas a ser António Martins e isto aqui é a Corte António Martins (…)
E foi assim que ficou o nome da Corte António Martins.
- Source
- AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,
- Year
- 2010
- Place of collection
- VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO, FARO
- Collector
- Alícia Lopes (F)
- Informant
- Manuel Pereira (M), 70 y.o., born at VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO (FARO),