APL 1562 Loulé

São concordes os historiadores em atribuir a Loulé uma antiguidade respeitável, divergem, porém, entre si, quando querem determinar a época da sua fundação.
 Uns ensinam que Loulé foi construída com os materiais da antiga cidade de Carteia; outros opinam por uma origem ainda mais antiga e querem que fosse fundada pelos cartagineses, 404 anos antes de Jesus Cristo.
 Sabe-se que em 745, ano em que os árabes invadiram o Algarve, já Loulé existia como vila importante, ignorando-se se tinha ou não o nome actual.
 Segundo uma lenda muito autorizada, que, de idade remota, corre nesta vila, o nome actual foi-lhe dado aí pelos anos 1045 da nossa era. Diz-se que em uma das correrias empreendidas, em terras de mouros do Al-Faghar, por D. Fernando I, rei de Leão, cognominado o Grande, chegou ele, à frente dos soldados, muito próximo do Castelo de Loulé. Então levantou-se entre os seus cabos de guerra, que o rodeavam, discussão acerca do nome da árvore, que, de longe, avistaram sobre o castelo. Uns diziam que era uma alfarrobeira, outros um choupo, outros o álamo, alguns o aloendro, e outros um loureiro.
 — Laurus é, disse o monarca, entrando na discussão e pondo-lhe ponto final.
 E desse momento em diante foi esta vila conhecida entre os cristãos pela vila de Lauroé, e mais tarde, Loulé.
 Disse acima ser autorizada esta lenda, pois que as armas da vila são figuradas num castelo e sobre ele um loureiro. Quando D. Paio Peres Correia entrou no Algarve com os seus cavaleiros, tinha Loulé grande importância, resultante certamente do seu castelo fortificado. Por duas vezes despertou ele a cobiça do Mestre, quando este de Estombar saiu para Cacela, e quando de Cacela foi esperar em Salir, D. Afonso III, mas então teve receio de o acometer e satisfez-se apenas em olhá-lo de longe. Na terceira, que foi a escolhida pelo Mestre para o tomar à força de armas, correu tão feroz e mortífero o combate que ao próprio D. Afonso causou espanto, o que facilmente se vê do diálogo havido entre D. Paio e D. Afonso III, «...e porque ao Mestre morria alguma gente nas pelejas e combates...» disse-lhe El-Rey falando com ele: «Mestre muito me pesa por os cavaleiros que vos morrerão na conquista destes lugares porque eram todos mui estremosos homens». «Senhor, disse o Mestre, não tomeis nojo por os mortos porque morrerão no serviço de Deus e salvação de suas almas e logo o Mestre partiu de Loulé e foi-se lançar sobre Aljezur».
 Estas palavras que encontro na Crónica Inédita da Conquista do Algarve por um anónimo, quase contemporâneo dos sucessos que ali se narram, fazem crer que a conquista do castelo de Loulé custara muito sangue cristão. E possível e até certo que naquelas palavras o valente monarca não só se referisse ao combate em frente do Castelo, como ao combate ferido no sítio dos Furadouros, quando o Governador do Castelo quis tolher os passos aos freires de D. Paio, ainda assim não destroem a minha asserção e antes a confirmam porque ou aquelas palavras fossem aplicadas somente ao combate em frente do castelo ou também ao travado no sítio dos Furadouros, ambos estes tiveram por fim a conquista de Loulé.
 E porque tanto o combate realizado no sítio dos Furadouros como o ferido na conquista do castelo marcam a origem das lendas, pois até nelas se prendem, vou no seguinte capítulo tratar desse assunto, notando que me regulei muito na sua elaboração pelas tradições locais, que ainda correm no sítio.
 Os Furadouros distam aproximadamente quatro quilómetros da vila e por este sítio passava a antiga estrada de Loulé para Faro, como ainda hoje passa a moderna, que cone paralela à antiga e pelo mesmo sítio.

Source
OLIVEIRA, Francisco Xavier d'Ataíde As Mouras Encantadas e os Encantamentos do Algarve Loule, Notícias de Loulé, 1996 [1898] , p.53-54
Place of collection
LOULÉ, FARO
Narrative
When
19 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography