APL 2228 Animais com Luzes nos Galhos

Está junto dum regato, por nome Conchada, que lhe banha as fraldas, um monte rodeado por um socalco no cume. Dizem que ali houvera um castelo dos Mouros. O cume desse monte chama-se hoje Castelo de S. Paio (Paio parece-me palavra estropiada, mas assim diz o povo). Há por ali pedras, mas pequenas, em montões, que dizem ser as ruínas do castelo; essas pedras e as do socalco não são lavradas. Diz a tradição que estavam ali os mouros e defronte os cristãos numa pequena planície (hoje chamada Chãos, e que me pertence agora) para darem batalha no dia seguinte.
 Os cristãos eram poucos e temiam ser derrotados, mas tiveram a feliz lembrança de, à noite, arranjarem pequenos molhos de colmo que colocados um pouco distantes uns dos outros, e andando os cristãos com luzes por meio deles, pareceram homens aos mouros, os quais, julgando que os cristãos tinham grande exército, fugiram na mesma noite.
 Perto dos Chãos, a distância de meio quilómetro, há um campo que ainda tem algumas pias das muitas que dantes tinha. Dizem também serem sepulturas dos mouros. Essas pias são feitas duma só pedra. A parte das pias onde devia ficar a cabeça do cadáver está voltada para o poente. O povo chama àquele campo «Os Mementos», certamente corrupção de monumentos.
 O regato deriva o nome de Conchada, um monte assim chamado, cujas faldas banha. O monte chama-se Castelo de São Paio e não é hoje todo rodeado pelo socalco; em parte foi arruinado por um homem para se aproveitar da pedra. Só o cume do monte se chama Castelo de São Paio; o resto é designado por Cabriz.
 Dizem que por ali fica uma mina defendida por um preto. Diz o povo que o preto é de ferro e de engonços e que mata quem lá for. Já lá têm andado a cavar, mas não continuam, por medo.