APL 421 O Sacrário dos “Terceiros”

Quando a igreja de S. Francisco estava ainda em construção, mas quase a concluir-se, apresentou-se um homem miseravelmente vestido, pedindo esmola e trabalho.
 - O que sabe fazer? - perguntaram-lhe os do convento.
 - Pouco ou nada – respondeu. Mas se mo consentirem…
 - Que dissesse tudo o que pretendia - tornaram os outros.
 - Quero escolher uma pedra à minha vontade e preciso duma cela para realizar um certo trabalho. Só quero que me dêem de comer e que me não espiem no meu trabalho.
 - Intriga-nos um tal procedimento. Que pretende fazer? - disseram os das obras do convento.
 - Tenho na ideia esculpir o sacrário que ainda falta na obra da igreja, mas só quero que o vejam quando o tiver concluído.
 Parece um pedido extraordinário e até mesmo disparatado, da parte de um indivíduo que era a imagem acabada da miséria, sem a menor aparência de talento. Como o hábito não faz o monge mesmo na casa dos frades que o vestem e como nada havia a perder, concederam tudo quanto o homem lhes pediu.
 Desde o dia em que começou o seu trabalho só aparecia à hora das refeições e nada dizia sobre o andamento da obra, nem lho perguntavam. Para melhor vigiar a sua obra dormia na mesma cela onde trabalhava.
 Um dia não apareceu à hora da refeição.
 Foram procurá-lo à cela e em lugar do pedinte encontraram um precioso sacrário, verdadeiro trabalho de artista.
 Procurou-se por toda a parte o misterioso e sublimado escultor e nunca mais foi visto.
 É de tradição que é o sacrário, feito de uma só peça, que está na Capela dos Terceiros.

 

Source
S/A, . Lendas e Outras Histórias Estremoz, Escola Porfissional da Região Alentejo / Núcleo de Dinamização Cultural de Estremoz, 1995 , p.23-25
Place of collection
ESTREMOZ, ÉVORA
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography