APL 1184 O Cabreiro
Havia um homem que era cabreiro e sonhara um dia que, nas lajeiras das Rasas, perto do local onde morava, estava uma cabra de oiro e um cabrito. Ele foi lá, viu-os, levou-os ao rei que, ao tempo, se encontraria em Belmonte e disse-lhe simplesmente sem mais explicações:
— Saiba Vossa Majestade que eu trago aqui uma cabra e um cabrito.
O rei, ao ouvir tal, pediu-lhe logo o cabrito por ser mais tenro, rejeitando a cabra por ter a carne mais dura.
Quando o homem tirou dos alforges a cabra e o cabrito, ambos de oiro, o rei ficou não só admirado, como interiormente arrependido de não ter aceitado também a cabra; mas, como «palavra de rei não volta atrás», mandou receber só o cabrito e nada mais disse.
Perante a situação perplexa em que o monarca se encontrava e que deixava perceber, o cabreiro deu-lhe a peça escolhida, mas teve ainda a gentileza de lhe oferecer a cabra.
O rei ficou tão maravilhado e reconhecido com o pobre homem, que premiou a sua generosidade ordenando-lhe:
— Vai à cavalariça e escolhe o melhor cavalo que lá houver. Todo o terreno que com ele correres, até o animal rebentar, ficar-te-á a pagar um foro, para toda a vida, a ti e aos teus descendentes.
O homem, doido de contente, assim fez, partindo de Belmonte, terra dos Cabrais (1), em direcção à freguesia do Ferro.
Quando chegou ao sítio próximo das Rasas chamado hoje pinhal do Cabreiro, o cavalo rebentou, e todas as terras por onde passou, desde Belmonte até ali, teriam ficado foreiras, mantendo-se por isso (sic) ainda hoje o foro nalgumas daquelas terras do Cabreiro e das Rasas(2) cujos enfiteutas, em tempos passados, iam pagar o respectivo laudémio a Belmonte.
Este foro era pago em rasas, vindo daí o nome àquele local, segundo algumas opiniões.
(1) — Familia de Pedro Alvares Cabral.
(3) — Era formado por medidas de rasas de feijão, milho, trigo e linho.
- Source
- RODRIGUES, Maria da Ascensão Carvalho Ferro, Cova da Beira Covilhã, Edição do Autor, 1982 , p.114-115
- Place of collection
- Ferro, COVILHÃ, CASTELO BRANCO