APL 3640 A lenda da fraga do Poio

A certa distância da aldeia de Brunhoso, concelho de Mogadouro, no caminho do Poio, existe uma grande fraga redonda, com uma grande rachadela, e que é chamada a Fraga da Tecedeira, embora também seja conhecida como a Fraga do Poio. Contam os mais velhos que, em tempos antigos, houve por aquelas bandas uma luta com os mouros, onde foi raptado um príncipe cristão que tinha amores com uma bela princesa moura.
    Passado algum tempo, quando os mouros já se tinham ido destas paragens, apareceu ali a jovem, cheia de desgosto, e refugiou-se na dita fraga, na esperança de o príncipe um dia voltar. Esperou semanas, meses e anos. E depois de tanto esperar, resolveu pedir à senhora Miquelina, que ali passava todos os dias, a ver se lhe arranjava um tear para ocupar o tempo.
    A senhora Miquelina, como era a tecedeira mais importante da região, arranjou-lhe então um tear. E dizem que ao passar-lho para as mãos, este transformou-se num tear de ouro. O príncipe nunca mais apareceu, mas ela continuou lá a viver e a tecer no seu tear. Diz-se que ainda hoje espera a chegada do príncipe. E a fraga passou a ser conhecida como a Fraga da Tecedeira.
    Na aldeia cumpre-se hoje a tradição de as pessoas mais velhas chamarem as mais novas e perguntarem:
    — Quereis ouvir uma princesa a tecer?
    As crianças encostam a cabeça e a pessoa mais velha dá-lhe com ela na fraga. Elas ficam então com um zunzum na cabeça, e perguntam-lhes:
    — Então, ouvistes?
    As crianças dizem que sim. Mas, quer tenham ouvido ou não, aprendem pelo menos que nem em todas as fantasias se pode acreditar. E amanhã, serão elas a transmitir essa mesma lição a outros.

Source
PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.289
Year
2001
Place of collection
Brunhoso, MOGADOURO, BRAGANÇA
Informant
Maria Zita Baptista (F), 50 y.o.,
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography