APL 233 Lenda do lampião
Na rua de Salvador Brandão, lugar da Azenha, em Gulpilhares, existe um nicho sob a invocação de Nossa Senhora do Carmo.
O povo designa estes pequenos nichos postados à beira da estrada como Alminhas por, muitos deles, se destinarem a chamar a atenção de quem passa no sentido de lembrarem as almas que penam no Purgatório, rezando em seu sufrágio.
Consta na tradição que, uma noite, um trabalhador de armazém (são conhecidos entre o povo por matulas) passou junto do nicho em estado de embriaguez, numa noite invernosa, escura como breu.
Então, deteve-se para fazer as suas orações à Senhora do Carmo.
E, tendo dificuldade em percorrer o caminho sem a ajuda de uma luz, rogou à Senhora que lhe emprestasse aquele lampião que — mercê de uma devota — tinha ali todas as noites a fazer-lhe companhia.
Pediu, pediu... não obtendo resposta!
O certo é que, no seu entender, o silêncio correspondia a assentimento, pois até se diz que quem cala consente...
Por isso, tomou o lampião — que não faria falta à Senhora só por uma noite, mas a ele naquele estado fazia imenso jeito — e abalou estrada fora, cambaleando aqui, tropeçando acolá, até que chegou a casa, após ter percorrido um caminho difícil naquela noite negra.
Depois de um sono reparador, que deu cura ao seu mal, o matula — logo ao despontar da manhã — foi devolver à Senhora do Carmo o seu lampião, que antes encheu de azeite e de novo acendeu.
Ao fazer o seu agradecimento deitou na caixa das esmolas algumas moedas e diz-se que a Senhora do Carmo lhe sorriu, como que a premiar a sua ingenuidade.
- Source
- VALLE, Carlos Revista de Etnografia 26, Tradições Populares de Vila Nova de Gaia - Narrações Lendárias , Junta Distrital do Porto, 1969 , p.423
- Place of collection
- Gulpilhares, VILA NOVA DE GAIA, PORTO