APL 1347 A sereia e o pescador
Há muitos anos atrás, quando a Limeira ainda era uma praia, um certo dia, um pescador que por ali passava para ir para o seu trabalho ouviu um choro muito triste, vindo da areia. Escutou um pouco e, seguindo o som dos soluços profundos, encontrou uma linda sereia deitada na praia a chorar. A tristeza era tão sentida que o pescador não sabia se estava mais admirado por ter encontrado um ser tão estranho, se estava mais magoado com o sofrimento da sereia. Um pouco indeciso abeirou-se e disse:
— O que se passa para estares assim tão triste?
A sereia explicou que tinha vindo até à praia e que a maré tinha, entretanto, vazado sem se aperceber. Aqui o choro tornou-se mais intenso e dizia que com a maré baixa não conseguia ir para o mar, enquanto apontava a sua linda cauda de peixe. A medo pediu ao pescador que a levasse para o mar.
O pescador não sabia o que fazer, mas aceitou, dizendo:
— Levo-te, sim, se tu em troca me trouxeres uma pedra das que caem do céu e estão depositadas no fundo do mar!
O choro da sereia acalmou-se. Com um suave gesto de cabeça concordou e pediu ao pescador que lhe desse um saco de favas para levar para o seu reino.
Acenando com a cabeça em tom afirmativo, o pescador pegou na sereia com cuidado e levou-a até ao mar, onde ela logo mergulhou com agilidade e graça.
Passado pouco tempo a sereia emergiu das águas, trouxe a pedra tão desejada pelo pescador e recebeu o saco de favas prometido.
A troca estava feita. A sereia mergulhou feliz e o pescador, segurando na mão a pedra que tanto tinha querido, ali ficou cismando se mais alguma vez encontraria a sereia.
Muitas outras vezes passou por ali, algumas vezes ali ficou parado à espera, mas nunca mais voltou a ver a sereia que lhe tinha dado uma pedra caída do céu.
- Source
- FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias , Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.182
- Place of collection
- Santa Cruz Da Graciosa, SANTA CRUZ DA GRACIOSA, ILHA DA GRACIOSA (AÇORES)