APL 237 Lenda de santa barbara

O lugar de Coimbrões, da freguesia de Santa Marinha, está no alto da vila a servir de fronteira às freguesias da Madalena e de Canidelo.
 Nesse lugar existe uma capela (que tem como padroeira Santa Bárbara, eleita pelo sentimento popular como protectora contra as trovoadas) que é agora matriz de uma freguesia eclesiástica recentemente criada.
 Corre na tradição que a imagem da Santa aí existente fora oferecida pelo capitão de um navio que estava ancorado no Rio Douro.
 Esse capitão trazia a imagem no beliche do seu barco e aguardava uma oportunidade para subir às terras dos judeus.
 No convés do navio o capitão conversava com um marinheiro seu subordinado dizendo-lhe que pensava em ofertar a Santa a quem a estimasse e venerasse pois, andando no mar, poderia perdê-la.
 O marujo, que era do lugar, disse então ao capitão que havia lá uma capela e que o seu povo lhe daria devoção e afecto.
 Em face da informação a imagem foi desembarcada e conduzida para a capelinha de Coimbrões que era, nesse tempo, muito pobrezinha de imagens (tinha a Senhora do Rosário e uma imagem de Santa Luzia).
 Só mais tarde a Capela de Santa Bárbara, de Coimbrões, veio a receber muitas imagens de santos constando que vieram do Convento do Vale da Piedade (de frades mendicantes), trazidas pelo povo, quando as salvou do incêndio que ali foi ateado pelas tropas liberais, antes da retirada dos miguelistas.
 Esse mesmo povo, no palco dos seus terreiros rústicos, realizando teatro popular, representava o drama que envolveu a morte da Santa, que foi degolada por ordem do seu próprio pai. Esse auto corre impresso desde 1748 segundo a informação de Teófilo Braga e era, no séc. xviii, um dos mais vendidos em Lisboa.