APL 1865 Um menino prodígio
Santo António, em pequeno, era muito diferente das outras crianças, apesar de ser de igual idade. Era um menino que fazia coisas prodigiosas, era um menino prodígio.
Um dia, o pai mandou-o para o campo vigiar os pássaros, que eram muitos, e eles tinham muitas terras. Isto era no fim da Primavera, princípios de Verão, quando o trigo começa a amadurecer e os pássaros atacam as espigas loirinhas, para se alimentarem.
Fernando, que era o seu nome de baptismo (só depois é que ficou conhecido por Santo António), foi para o campo e esteve por lá a afugentar a praga. Mas, quando o sino da igreja tocou para as Avé-Marias, ficou sem saber o que fazer porque não queria deixar de ir rezar e ficou muito aperriado.
Pensou, pensou e começou a chamar os pássaros e eles vinham. Fechou-os todos na acafuga [casota em pedra] que havia ali e tapou a porta com a grade. Nenhum saiu.
À noitinha, quando chegou a casa, o pai perguntou-lhe se tinha estado atento aos pássaros ou se tinha estado na brincadeira e Fernando respondeu:
— Os pássaros fizeram o que eu mandei. Chamei-os todos e eles vieram e fechei-os na acafuga e pus a grade na porta e eles não saíram.
O pai ficou muito espantado e não queria acreditar em tal coisa. Foi com o filho ao serrado para comprovar. Qual não foi o seu espanto, quando chegou ao serrado e estavam todos os pássaros na acafuga com a grade à porta, como o filho tinha dito. Fernando fez este e muitos outros prodígios, por isso, era um menino prodígio.
- Source
- FURTADO-BRUM, Ângela Contos Tradicionais Açorianos , João Azevedo Editor, 2003 , p.116
- Year
- 2003
- Place of collection
- Santa Cruz Da Graciosa, SANTA CRUZ DA GRACIOSA, ILHA DA GRACIOSA (AÇORES)
- Informant
- Marta José Quadros (F), 50 y.o., Santa Cruz Da Graciosa (SANTA CRUZ DA GRACIOSA),