APL 742 O Calhau da Velha

O Calhau da Velha, além naquele monte, o Monte das Cubas, ficou com esse nome porque viveu lá uma velha, já vai há muitos anos. Mas ainda é da minha lembrança. Essa velha andava sempre com um potinho na mão, que era onde fazia a comida.
 Não tinha medo de nada. Às vezes estava lá aos quinze dias. Dormia debaixo do calhau. Havia aqui um homem que a cada passo lá passava e dizia que a via. Ele levava sempre um cão com ele pois tinha medo. Mas ela não tinha medo nenhum. Dormia lá e comia. Fosse Verão ou Inverno, tanto se lhe dava. Nem o calor nem o frio a incomodavam. A pele dela já era com’á pele dum sapo.
 Diziam que, quando era nova, lá na terra dela, porque ela não era daqui, foi enganada por um sujeito a quem chamavam o “Palavra”. E por isso, a garotada, quando a queria arreliar, só bastava dizer:
 — Ó ti Maria, lá vem o “Palavra”!
 Era como se lhe falassem no diabo. Ela pousava logo o pote no chão e desatava à pedrada sobre quem apanhasse à frente.

Source
PARAFITA, Alexandre Património Imaterial do Douro - Narrações Orais (contos, lendas, mitos) Vol. 1 Peso da Régua, Fundação Museu do Douro, 2007 , p.147
Place of collection
Granja Do Tedo, TABUAÇO, VISEU
Collector
Alexandre Parafita (M)
Informant
José Soares de Oliveira (M), 82 y.o., Granja Do Tedo (TABUAÇO),
Narrative
When
21 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography