APL 1388 O Cabeço da Lança
Minha tia Maria Augusta contava que na segunda metade do século dezasseis, mais precisamente rio ano de mil quinhentos setenta oito, D. Sebastião com alguma mocidade portuguesa lá iam na sua viagem.
A certa altura, uma tempestade desviou o rumo das embarcações e, levados pela força dos ventos, acabaram por se aproximar das ilhas dos Açores. Navegando pela costa sul da ilha do Pico, encontraram abrigo aqui na baía da Calheta do Nesquim. D. Sebastião mandou lançar uma barca e fez uma paragem na sua viagem. Maravilhado com a beleza da terra, não ficou pelo litoral, mas levado pela aventura e a força determinada da juventude, enjeirou-se terra dentro e tentou chegar a um monte com dois cumes, que tinha avistado do mar. Embrenhou-se pelos matos que cheiravam a faias e cedros. Subiu oiteiros e montes.
Chegou finalmente ao dito monte, a cerca de setecentos metros de altitude, e, já cansado da longa viagem a pé, parou e consolou-se a ver a linda paisagem que dali se avistava. Pensou que era preciso voltar à caravela para prosseguir. Cativado pela beleza do lugar, desembainhou a sua lança e enterrou-a na terra negra e pedregosa do cimo do monte, dizendo entusiasmado:
— Aqui ficas, minha lança, até ao dia em que eu te vier buscar!
Regressou às naus, apressado. A frota prosseguiu viagem e o jovem rei não voltou mais ao Pico.
A lança ficou, enterrada no cume do monte. Os anos foram passando e a ferrugem, causada pela chuva e a humidade, foi roendo a lança, até que a fez desaparecer.
Mas não foi esquecido o acontecimento e a esse monte, onde esteve enterrada a célebre lança de D. Sebastião, passou a chamar-se Cabeço da Lança.
- Source
- FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.231
- Place of collection
- Calheta De Nesquim, LAJES DO PICO, ILHA DO PICO (AÇORES)