APL 1266 Lenda do Pico das Freiras
Em tempos remotos, lá pelo século dezasseis, o monte a que hoje se chama Pico das Freiras estava situado para as bandas do Nordeste, a cerca de quarenta quilómetros de onde hoje se encontra.
Uma crise vulcânica, das muitas que atingiram os Açores, fez-se sentir.
A terra começou a tremer e fazia ondas como o mar embravecido por um vento forte. Fendas enormes abriram-se na terra, desabaram rochedos e a ilha de S. Miguel perdeu a feição que tinha até então. O dito Pico, como se fosse movido por forças ocultas, começou a deslocar-se e era um gigante que se arrastava lentamente por não poder com o seu peso. Foi-se aproximando aos poucos da Ribeira Grande.
Nessa altura, em frente ao local onde hoje se encontra a Escola Preparatória, havia um convento de freiras. As religiosas, de olhos arregalados e faces pálidas de medo, viam o monte aproximar-se como um gigante que ameaçava destruir-lhes a vida e os haveres. Saíram então à rua em solene procissão, implorando demência ao Todo Poderoso:
— Senhor tende piedade de nós! Pai Nosso que estais no céu, santificado…
As suas preces foram ouvidas. A terra deixou de tremer e o Pico parou, por fim, no local onde agora se encontra.
Aos poucos a vida foi voltando à normalidade, mas, por infelicidade, uma povoação ficou soterrada e encantada, debaixo do monte a que passaram a chamar Pico das Freiras.
Ainda hoje nesse lugar, de sete em sete anos, aparece um galo a cantar e diz o povo que, se houver alguém com dotes sobrenaturais para poder ver e falar com o galo, imediatamente a povoação soterrada voltará à superfície. Porém a alegria não será total porque, por magia do galo, uma outra povoação, de nome feminino, ao mesmo tempo será encantada e soterrada em substituição da primeira.
- Source
- FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.90-91
- Place of collection
- RIBEIRA GRANDE, ILHA DE SÃO MIGUEL (AÇORES)