APL 128 Lenda da Ria Formosa
No tempo antigo de Gharb mourisco, um cristão corria riscos e vivia perigos e a própria natureza emudecia, perdia cor e brilho sob a Lei moura. Nos seus grandes castelos ao longo do Litoral, sinal de guerra, esta gente agarena levava uma vida opulenta e, por vezes1 consagrada à Poesia. Em todos os castelos não podia faltar, também, um valido que o governava e uma rainha que o trono lhe disputava. De olhos safiras e rostos morenos, as filhas do deserto tocavam harpas e liras e escondiam encantos...
Mas a este cenário faltava os experientes cavaleiros portugueses, à guerra afeitos, que altas portas derrubaram, muros elevados venceram e por ali todos entraram e buscaram seus tesoiros, infantas e princesas. Por três dias e manhãs, os cavaleiros ali deram provas do seu amor, porque outra mulher não amava como a mulher moura sabe amar.
Quiseram depois partir para Santa Maria de Haro, quando Allah se fez ouvir para vingar a gente do deserto. Alto e forte levantou a sua voz, com respeito e determinação, praguejando contra a gente cristã. Água ou pó de novo seria a pena do filho de Jesus Cristo e da mulher sarracena que a Allah cerrou o ouvido. Morreram sóis e Luas até que elas se transformaram em dunas douradas e eles em água do mar.
E o tempo parou, assim, por dias, meses e anos sem fim. Só mais tarde, eras passadas, voltaram gentes cristãs ao lugar do sol apolíneo e àquela suave luz e doces raios que a todos fazia amar. E quem vislumbrasse o verde do mar num sonho parecia embarcar...Rica, bela e graciosa, logo à Ria decidiram chamar Formosa! Entretanto, cada princesa lá continua encantada, porque a lenda ainda hoje reza que é feliz e assim amada!
- Source
- AA. VV., - Lendas e Gastronomia Olhanenses Olhao, Ensino Recorrente e Educação Extra-Escolar / Coord. Concelhia de Olhão, 2002 , p.4
- Place of collection
- OLHÃO, FARO