APL 637 Lenda da Princesa Peralta

Conta a lenda que existia um reino poderoso cuja capital era Colimbria. EI-Rei Arunce era dono e Senhor, reinando um tanto despóticamente e para melhor manter o poder, desarmara o povo que vivia na maior miséria.
 Na corte, porém, o fausto era imenso e as festas e recepções sucediam-se ante o gáudio das damas que a isso muito eram dadas.
 Entre as damas salientava-se Peralta, não só por ser filha do rei mas porque era donzela dotada de grandes formosuras.
 A Sertório, o famoso guerreiro, não lhe desmereciam os encantos da bela Princesa e não se descuidava, mandando mensageiros. Também na corte eram muitos os pretendentes. Porém, a todos, Peralta, desiludia.
 E os tempos foram correndo na corte entre caçadas reais e orgias faustosas, sem qualquer espécie de interesse ou cuidado pelo culto das divindades.
 Enquanto que na terra reinava o descontentamento entre os fidalgos, nas alturas os deuses demonstravam cada vez maior aborrecimento pelos desvarios da juventude.
 Foi então que Vénus, a mais inquieta e ofendida de todas as divindades, resolveu vir ver com os seus próprios olhos o que se passava. E transformando-se em velha, apresentou-se na corte de Colinibria sob andrajosas vestes. Fàcilmente se conseguiu insinuar e aproveitou para dar longos conselhos, plenos de experiência, às levianas donzelas da corte.
 Foi porém sempre escutada com ares de mofa e de impensada tolerância pretendendo as damas servir-se da profunda ciência oculta de que a velha parecia possuída para lhes desvendar os corações dos enamorados.
 Isto muito agastou a feiticeira que ali mesmo jurou vingar tanta loucura e sacrilégio.
 E o certo é que passadas poucas luas foi o reino poderoso invadido e transformado em humilhante escravatura.
 Não teve EI-Rei Arunce força para corresponder aos ataques inimigos, retirou-se ràpidamente em busca de reforços.  Mandou, entretanto, Peralta e o seu séquito para um castelo que possuía nas faldas das montanhas da Lousã.
 Ali se passaram tediosos dias até que um raio de esperança os veio acalentar.
Como por encanto aparecera naquelas paragens um mago, o poderoso Estela.
 Este, mais não era que o enviado de Sertório que não desistindo dos seus intentos, a todo o transe procurava casar com Peralta.
 A argúcia e natural habilidade do feiticeiro breve o fizeram insinuar no castelo e à custa das suas demonstrações e inteligentes argumentos conseguiu convencer Peralta que El-Rei a esperava em Sertago, à frente dum poderoso exercito.
 Os verdes anos da Princesa, a despeito dos prudentes conselhos da sua fiel aia, Antígona, e do velho Tibério, fàcilmente se enredaram em tão agradável aventura.
 Assim, e sob as indicações do hábil Estela, imediatamente se aprestaram os preparativos para a jornada.
 Desta forma todo o séquito acompanhou a Princesa guiado sempre por Estela e assim chegaram aos cimos da serra e a foram atravessando.
 Jornada de tal jaez era porém demasiada para a debilidade da velha Antígona. Uma trovoada imensa obrigou-os a acoitarem-se numa gruta e ali faleceu a fiel Antígona.
 Desditosa, Peralta, chorou imensamente a morte da companheira e quase desistiu de tão tormentosa viagem.
 Sobre a sepultura da pobre aia se colocou uma lage com a seguinte inscrição: «ANTIGONA DE PERALTA AQUI FOI DA VIDA FALTA».
 E a jornada continuou.
 A Princesa fizera entretanto voto de mais não comer nem beber pelo que muito foi o espanto dos acompanhantes quando a insistência de Estela que lhe perguntava se queria água, lhe respondeu: VOLO!
 Prosseguindo, mais animada, na jornada, avançavam a caminho da almejada Sertago.
 Porém Vénus vigiava a caravana e resolve acabar com tanta desdita. Envia um poderoso raio que transforma os acompanhantes em montanhas e a bela Peralta numa formosa sereia que ficou vivendo nas águas que brotavam da serra onde ficara para sempre Antígona.
 E conta a lenda que esse raio poderoso desfez igualmente a lápide onde para a posteridade apenas ficava da primitiva inscrição, a seguinte apagada legenda: 

ANTIG…A DE PERA…..

 E dos sítios onde Peralta disse «VOLO» nasceu o Bolo, enquanto das das paragens onde existia o túmulo, surgiu Pera.
 E de toda esta lenda maravilhosa nasceu CASTANHEIRA DE PERA.

Source
BARRETO, Kalidás Monografia do Concelho de Castanheira de Pera Castanheira de Pera, Câmara Municipal de C. Pera, 2001 , p.251-252
Place of collection
Castanheira De Pêra, CASTANHEIRA DE PÊRA, LEIRIA
Narrative
When
21 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography