APL 362 A serpente

Dizem os antigos que nos montes de Covas do Rio havia uma serpente muito, muito grande, que ia beber ao Rio de Bronhedo, onde nessa altura habitava gente. Como a serpente era descomunal as pessoas não se podiam defender dela, que ia comendo quem apanhava mais perto, quando lhe dava fome.
 As pessoas tiveram tanto medo que fugiram, mas como gostavam tanto de morar ali, e o lugar é deveras bonito, iam dizendo:
 -Que pena, que pena termos de sair daqui!
 E foram construir as suas casas numa aldeia, no fundo de um vale de dificil acesso, onde a serpente não lhes conseguisse chegar com facilidade. Diz-se que, por isso, chamaram Pena ao lugar para onde fugiram. Mas alguns não quiseram ir para longe dali e ficaram em Covas do Rio, por isso tinham que levar, todos os dias, uma rês ao pé do rio, para a serpente não os comer a eles.
 Certo dia, uma menina levava uma rês lá para o sítio onde a serpente ia bebei; e ia a chorar com muito medo, quando encontrou um barbeiro, que andava a cortar as barbas, de aldeia em aldeia. Então, o barbeiro perguntou-lhe porque é que ia a chorar e ela contou-lhe o que se estava a passar. O barbeiro disse-lhe que não chorasse mais, que ele havia de matar a serpente e quis saber por onde é que ela passava, quando ia beber ao rio. A menina mostrou-lhe o caminho e o barbeiro afiou bem muitas facas e colocou-as em jeito de escamas, de tal maneira que, nesse mesmo dia, quando a serpente desceu para ir beber ao rio, passou em cima das navalhas, mas não se cortou, só que quando voltou a subir ‘cortou se toda, o sangue corda pelo rio abaixo e ela morreu.
 Ainda hoje lá se pode ver a cova da serpente e os restos das paredes das casas, que as pessoas tiveram de abandonar para salvarem as suas vidas.

Source
PINHO, Isabel Contos e Lendas da Serra Nostra S. Pedro do Sul, Câmara Municipal de S. Pedro do Sul, 1998 , p.25
Place of collection
Covas Do Rio, SÃO PEDRO DO SUL, VISEU
Informant
Maria dos Anjos (F),
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography