APL 1357 A Pedra da Moira e o Serrado das Pedras

Na Ribeira Seca, havia e ainda há um terreno muito direito e muito produtivo que há muitos anos atrás era cultivado de trigo. S. Jorge produzia muito trigo que às vezes era trocado por peixe seco, vinho e outros produtos vindos do Pico e de outras ilhas, trazidos por uma espécie de almocreves à medida das ilhas.
 Ora o dono da tal terra costumava mandar para a seara, quando o grão já engordava as espigas, três criadas moiras que se espalhavam pelo campo e ali passavam o dia. Enxotavam os canários com barulho, batendo com pedras em latas velhas ou rodando grosseiras matracas. De vez em quando ouvia-se as suas vozes:
 — Xô canário! Xô-Xô!...
 Para ajudar a afugentar a praga, usavam espantalhos ou outros objectos cujas cores ou aspecto amedrontavam os ingénuos canários.
 E tanto tempo ali passaram as escravas moiras ao sol de Julho que acabaram por ficar encantadas em pedras. De vez em quando, nas manhãs de S. João, elas apareciam às pessoas com a esperança de serem desencantadas.
 Como isso nunca aconteceu, as três moiras ainda lá estão, transformadas em pedras, que contrastam com o resto do terreno, todo muito plano e verde.
 Essas pedras passaram a chamar-se Pedra da Moira e o serrado ganhou, a designação de Serrado das Pedras, nome pelo qual ainda hoje é conhecido por toda a gente.

Source
FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.193-194
Place of collection
Ribeira Seca, CALHETA DE SÃO JORGE, ILHA DE SÃO JORGE (AÇORES)
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography