APL 537 A fundação da bondança e a lenda

Bondança é uma pequena povoação da freguesia de Manhouce com 12 fogos e cerca de 58 habitantes situada numa fértil garganta entre a Serrinha (Outeiro do Cabrito) e o Outeiro dos Lobos, às margens do ribeiro do mesmo nome.
 A sua fundação deve remontar aos séculos XVI ou XVII e no ano de 1800 eram seis as famílias (casas) do lugar: Souto, Manel João, Fechas, Gomes, Pinho e Manel Zé.
 O milho e a criação de gado são nos nossos dias as suas principais fontes de riqueza mas em tempos remotos, mesmo antes da sua fundação, subiam por aquelas encostas, centenas de frondosos castanheiros e no Outono era uma “abundância” de castanhas e folhas pelo chão.
 Como já existiam os lugares do Souto e dos Castanheiros, além, no sopé da Oreça, ao lado da Estrada Romana, então pôs-se a este local o nome de Abundância - Abundança - que hoje é Bondança.
 A primeira casa (família) da Bondança deve ter sido a casa do Souto. 
 Conta a lenda que o primeiro senhor da Casa do Souto, de nome António, dono da maior parte daqueles frondosos castanheiros, homem amante dos viras e das modinhas de roda, convidou muitos rapazes e raparigas dos lugares mais próximos para uma tirada.
 No fim do trabalho e depois da ceia, a banza e a sanfona, domadas por adestradas mãos, começaram a tocar no terreiro ou talvez no sobrado da casa e os pares rodopiavam ao desafio naquela animação da gente moça e gaiteira.
 Eram os viras de entontecer, as modas de roda e aqueles cantares antigos e belos, a três vozes, de fazer sonhar: 
 O Vira Flôr, o Vira da Aldeia, o Vira de Trempes, o Tareio, a Tirana, a Cana Verde, o Velho, o Senhor da Pedra, as Marrafinhas, a Dolaidinha, Vai o Paspalhão p’ro Meio, D. Solidão, Ó Minha Mãe que é Aquilo, Ó José Pinta Flores, Ó Balas Encadeadas, Pra onde vai Senhor Lexandre... E quantas outras antigas e maravilhosas modas daqueles tempos que não chegaram aos nossos dias.
 As horas corriam, a dança enfeitiçava e continuaria assim até sol nado se o Senhor António do Souto, já quase de madrugada, na sua voz pesada e terminante não bradasse aos bailarinos:
 — Bonda de dança! Bonda de dança!
 A dança acabou, mas aquele brado nunca mais se extinguiu pelas quebradas da Serrinha até aos nossos dias dando o nome àquela povoação - “Bonda de dança”, depois “Bonda dança” e por fim Bondança.
 Qual dos dois étimos será o da verdadeira origem da palavra Bondança, este, ou Abundância?
 Os etimologistas que o digam...

Source
CRUZ, Julio Lendas Lafonenses Vouzela, AVIZ / Clube de Ambiente e Património da Escola Secundária de Vouzela / ADRL, 1998 , p.14
Place of collection
Manhouce, SÃO PEDRO DO SUL, VISEU
Collector
António Gomes Beato (M)
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography