APL 894 Os Três Potes Enterrados

Contavam os antigos que, em tempos que lá vão, a população de Sopo andava muito intrigada com uns barulhos lá para a Mata do Carreiro. Os rumores andavam de boca em boca, mas ninguém ousava dizer em voz alta que se tratava de uma moura encantada a arrumar os seus tesouros nas «casinhas dos Mouros». Não era aquele um barulho de metais?
 A dado momento, à curiosidade acresceu a ganância. Mas o medo em enfrentar o desconhecido impedia qualquer iniciativa. Certamente que a Moura defenderia com todas as artimanhas o seu fantástico tesouro. E neste impasse permanecia toda a comunidade, até que um rapazote mais afoito, e ainda pouco experimentado na vida, se resolveu em esclarecer o mistério e em tirar dessa aventura o devido prémio. Se o pensou, logo partiu para a Mata do Carreiro disposto a todos os desafios. Conforme se aproximava das «casinhas dos mouros», de onde vinha o ruído, mais este aumentava. Entretanto fez-se silêncio. Confuso, parou a busca, até que ouviu uma voz que lhe disse:
 - Vens à procura de um tesouro?
 A voz, feminina, colocara-lhe uma questão demasiado simples, mas à qual ele, com o medo, não foi capaz de responder.
 - Se vens à conquista de riqueza, tens de procurar o lugar de onde ela vem! Aqui tens três potes enterrados. Um tem ouro, outro veneno, e o outro a guerra. Caso encontres o de ouro, serás rico, mas se abrires o da guerra, sofrereis todos; caso abras o de veneno, todo o vale, suas plantas, animais e pessoas, morrerão! Toma todo o tempo para decidir.
 Se antes não respondeu pelo medo, agora ficou mudo de pavor. Diante de si estava a riqueza e a desgraça; uma vida regalada ou a morte daquilo que mais amava. Esperava receber um conselho, uma mera pista, um sinal que o ajudasse a optar por um e a renegar os outros, mas nada lhe era manifestado.
 Ali ficou por muito tempo, hesitando entre avançar para a sorte ou fugir à tragédia. Bem queria ele ter uma ajuizada opinião de um amigo ou familiar! Encontrava-se ali sozinho e com um dilema que só ele poderia resolver. Depois de muito pensar olhando para as hospedes, resolveu sentar-se num rochedo comodamente. Assim se encontrava, quando, por breves momentos, levantou a cabeça, deixando estender o olhar pelo vale. Imediatamente se levantou, e, sem mais olhar para trás, regressou a casa.
 A partir daquele dia nunca mais se ouviu qualquer barulho lá para os lados da Mata do Carreiro.

Source
CAMPELO, Álvaro Lendas do Vale do Minho Valenca, Associação de Municípios do Vale do Minho, 2002 , p.211
Place of collection
Sopo, VILA NOVA DE CERVEIRA, VIANA DO CASTELO
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography