APL 2269 [Os Moiros de Castelo Branco]
Uma rapariga ia lavar à ribeira muito cedo, mas mais do que ela cuidava, porque pelo caminho deu-lhe meia-noite, e, por isso com medo, escondeu-se atrás de uma parede, à espera de que viessem as outras companheiras. Isto foi nos arredores de Castelo Branco.
Pela nome adiante, ouviu estralar uma pedra. Fazia bom luar e viu sair da pedra uma quantidade de familia (= gente), que eram moiros. Tornaram a fechar a pedra, e um disse:
Nunca tu, pedra, te abrerás
Senão quando cominhos samearás.
A famila desapareceu.
No fim de muitos anos, a rapariga, já casada, passou por aqueles sítios com o marido e disse para este:
— Ai, Fulano, que noute aqui passei em tempo!
— Mas que susto apanhaste?
— Olha: desta pedra saiu daqui uma quantidade de famila e disseram quando saíram: «Nunca tu, pedra, te abrerás, senão quando cominhos semearás.»
— Isso tem bom remédio: experimentar. Isso com meio quilo de cominhos, semeia-se assim muito terreno.
Compraram e semearam.
Abriu-se a pedra; eles entraram e viram uma casa cheia de muita riqueza. Eles tornaram-se também ricos e a sua casa ficou sendo das maiores daqueles sítios de Castelo Branco.
- Source
- VASCONCELLOS, J. Leite de Contos Populares e Lendas II Coimbra, por ordem da universidade, 1966 , p.758
- Year
- 1933
- Place of collection
- Castelo Branco, CASTELO BRANCO, CASTELO BRANCO
- Informant
- Maria de Oliveira (F), born at NISA (PORTALEGRE),