APL 3536 Tenda das lameiras do castro

Conta-se que, em tempos muito antigos, nas lameiras da base do castro [de Carvalhelhos, concelho de Boticas], andava uma rapariga a pastar o gado quando viu uma tenda muito bonita com muitos objectos de ouro. Brincos, anéis, cordões e arrecadas eram em tal quantidade que metia espanto.
    Nessa tenda, espécie de lojinha, estava uma velhinha que pediu à rapariga uma panela de leite. Se lha trouxesse, em paga lhe daria toda aquela riqueza. Deslumbrada, a rapariga não teve perna manca e foi a casa buscar uma panela de leite que a velhinha teria bebido com boa sede e grande aprazimento. Em paga encheu a panela de qualquer coisa que a rapariga não pôde ver o que era. Ao entregar-lha disse-lhe que até casa não visse o que a panela tinha.
    A meio do caminho, porém, a curiosidade levou a rapariga a destampar a panela. Foi enorme o seu desapontamento ao ver singelíssimos carvões, que foi deitando fora. Em casa desabafou com a mãe. A velhinha prometera-lhe a riqueza toda e, no fim de contas, dera-lhe apenas carvões que ela arremessara indignada. A mãe podia certificar-se: ainda restavam dois ou três no fundo da panela.
    A mãe foi ver a panela e verificou, espantada, que os bocados do carvão de sobejo se haviam transformado noutras tantas magníficas libras em ouro. Mãe e filha apressaram-se a percorrer o caminho em busca do carvão que a filha levianamente arremessara. Nada encontraram. Dos carvões, da tenda e da velhinha, nem o menor vestígio.
    A minha informadora rematou: “A rapariga depois bem se arrepelava derretida em lágrimas, mas já de nada lhe valia”. A curiosidade, atributo bem feminino, fizera com que ela perdesse tanta riqueza.

Source
PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.210-211
Place of collection
BOTICAS, VILA REAL
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography