APL 3388 Pinócros

No ponto mais elevado da serra de S. Julião  a uns 200 metros ao S. dos restos de uma trincheira, facho ou atalaia que ali existem, ergue-se quasi a prumo, do lado do O., um enorme e formidavel penhasco, ao qual se dá o nome de Pinócros.
    Tem varias ramificações de rocha viva, e no centro, que é o ponto mais elevado, apparece por entre as juncturas dos penêdos, e virado ao O,, um buraco, de uns 15 ou 16 centímetros de diametro.
    É o respiradoiro de uma immensa caverna, pois que fallando á boca do tal buraco, ouve-se a repercução do som, a grande distancia.
    Ás sinuosidades da estrada, e as arestas dos rochedos que a formam, tornam impossivel a investigação d’este subterraneo, sem grandes despezas, a que ninguem se sujeita.
    Não podia o nosso povo deixar de crear uma lenda a este logar, e com effeito, é tradição constante por estes sitios, que a caverna é habitada por Dona Caparixa (!) moura encantada, que guarda alli grandes riquezas.
    N’esta crença (ou crendice) por algumas vezes (e a ultima, ainda ha poucos annos) alguns mais atrevidos, teem procurado atrahir a moura cá para fóra, com evocações, esconjurios, e varias macaquices, para lhe apanharem o thesouro encantado.
    E, apezar de cumprirem rigorosamente todas as formulas indicadas no Livro de S. Cypriano, e por nove noites successivas, a moira ainda não cedeu a nada d’isto, nem se dignou mostrar o seu formoso rosto, nem a mínima parte das suas riquezas, aos pretendentes.

Source
PINHO LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Portugal Antigo e Moderno Lisbon, Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006 [1873] , p.Tomo VII, pp. 102-103
Place of collection
Branca, ALBERGARIA-A-VELHA, AVEIRO
Narrative
When
19 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography