APL 662 A Lapa do Aivado
Por entre encostas verdejantes e quase aprumadas de montes sem conto que dos confins do concelho de Proença-a-Nova se estendem até ao rio Zêzere, por entre extensas e lindas matas de pinheiros que, alinhados, de braços erguidos, parece rezarem continuadamente ao céu, próximo do lugar do Aivado, a alguns quilómetros de Vila de Rei, há, talhadas na rocha, grandes grutas ou cavernas em volta das quais o povo borda, há séculos, curiosa lenda.
Lá dentro, dizem, lá muito no fundo, há, envolvido em insondável mistério, lindo bezerro de ouro.
A seguir à primeira gruta, que todos vêem e conhecem, há, afirmam, a meio do monte, nova entrada, e, mais no interior, enorme abismo onde se ouve correr água. Cabras e cabritos que para lá caiam, desaparecem para não mais serem vistos.
E, sabe-se ainda que, quando os pastores, para procurarem os animais que no segredo das grutas se perdem, acendem grandes fogueiras, o fumo passa da primeira gruta à segunda e vai sair do cume do monte por entre fendas de enorme rochedo.
E assim, entre a velha lenda e as informações dos pastores, se, por mais de uma vez, os moradores dos lugares próximos têm procurado desvendar o mistério, se, por mais de uma vez os mais animosos têm tentado ir até ao fim, a verdade é que jamais deixou de soar a seus ouvidos, e todos têm como certo, que está gravada lá no interior, lá muito no fundo e há-de cumprir-se, a seguinte sentença:
O primeiro temerá
O segundo morrerá
O terceiro aproveitará
E por isso, todos, mesmo os mais atrevidos e desempoeirados, apenas têm avançado até algumas dezenas de metros da entrada, continuando a aguardar pelo rodar dos séculos que morra o segundo para chegar a vez de o terceiro arrancar do interior das grutas o sonhado tesouro.
- Source
- DIAS, Jaime Lopes Contos e Lendas da Beira Coimbra, Alma Azul, 2002 , p.72-73
- Place of collection
- VILA DE REI, CASTELO BRANCO