APL 3710 A fraga da urze
Ia uma vez um homem a caminho de Roma e perdeu-se, acabando por ir ter a um povoado onde pernoitou em casa de uma mulher que vivia sozinha. Ela quis saber de onde o homem vinha e ele respondeu-lhe:
— Venho de Vilartão.
— Será que conheces um lugar com uma fraga que tem um buraco no meio onde nasceu uma urze?
— Conheço — respondeu o homem.
Então a mulher, em troca da hospedagem, fez-lhe um pedido: ir junto desse buraco e chamar três vezes pelo nome Artinga, a quem entregaria uma burrinha de massa. O hóspede aceitou. A mulher deu-lhe então a burrinha de massa e rogou que a conservasse sempre inteira.
O homem lá foi a Roma fazer o que tinha a fazer e, no regresso, dirigiu-se à tal fraga e chamou:
— Artinga! Artinga! Artinga!
E de lá de dentro respondeu-lhe uma voz:
— Quem meu nome diz tão bem,
traz notícias de minha mãe!
Ele atirou então a burrinha para o buraco. Só que, com as voltas que ela deu na algibeira com a ida e a volta de Roma, partira-se-lhe uma perna. Por isso, disse a mesma voz lá de dentro da fraga:
— Dobraste-me o encanto! Por isso em vez de um grande tesouro que irias receber, vais ter de te contentar com apenas um tostão, que encontrarás nesta fraga sempre que cá vieres!
E Artinga, que era uma moura encantada, lá ficou mergulhada na sua tristeza, à espera de nova oportunidade. O homem, que era jogador, passou a ir todos os dias buscar o tostão à fraga da urze. Um dia, como estava a ganhar, encheu-se de entusiasmo e disse para os companheiros da jogatina:
“— Gasto e torno a gastar!
Quando não tenho vintém,
Subo à fraga da urze
E o dinheiro cá me vem!”
Estragou tudo. Dali a dias, voltou a precisar de dinheiro e, quando foi à fraga da urze, já lá não encontrou nenhum tostão. As mouras não gostam que falem dos seus segredos.
- Source
- PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.337-338
- Year
- 1999
- Place of collection
- Lebução, VALPAÇOS, VILA REAL
- Informant
- Maria da Graça Gomes (F), 54 y.o.,