APL 1029 A moura de Tavira
Há muitos anos, quando Tavira foi conquistada pelos Mouros, conta-se que havia uma princesa moura que era muito infeliz, pois não concordava com a maneira de viver dos do seu povo. Tinha-se apaixonado por um rapaz cristão e o relacionamento entre Mouros e Cristãos era impossível, pois não só não pertenciam ao mesmo povo, mas também porque houve uma grande batalha entre ambos.
A princesa admirava as festas dos Cristãos e nessa altura já havia a tradição de festejar o São João, onde se comia sardinha assada e se saltava por cima das fogueiras.
Na noite de 23 para 24 de Junho, a princesa decidiu ir ter com o seu amado. E fugiu do castelo em busca da felicidade. Andou com ele na festa, mas teve de voltar cedo, antes que os pais descobrissem a sua falta.
Naquele tempo, quando um membro infringisse alguma lei, era decapitado. E ela tinha sido descoberta.
No dia seguinte, o rapaz de quem ela gostava foi ao seu encontro e achou muito estranha a cor do lenço que estava pendurado na sua janela. A princesa costumava pendurar um lenço à janela para comunicar ao rapaz coisas boas ou más. Naquele dia, o lenço era preto. Ele ficou muito triste. Reparou entretanto que no chão junto à janela estava outro lenço com uma mensagem que dizia para ele nesse mesmo dia ir à meia noite à porta do castelo, pois ela precisava de lhe falar.
E assim foi. O rapaz apareceu à hora marcada e, espreitando por uma porta que dava para um túnel, viu-a ao longe a dizer-lhe adeus e em seguida a gritar, como se a estivessem a matar.
A lenda conta que todos os anos, quem for a esse castelo e a essa porta que dá para o túnel à meia-noite do dia 24 de Junho, ouve um grito de uma rapariga que dizem ser da moura encantada.
- Source
- AA. VV., - Literatura Portuguesa de Tradição Oral s/l, Projecto Vercial - Univ. Trás -os-Montes e Alto Douro, 2003 , p.ME18
- Year
- 2000
- Place of collection
- TAVIRA, FARO
- Collector
- Telma Cristina Dias Correia (F)