APL 2318 Lenda das sereias na pesca do bacalhau

Informante: Seis meses no mar. Seis meses no mar, lembras-te Custódio? Seis meses no mar sem ver só sol e o mar. Andavam seis meses por lá ganhavam muito bom dinheiro, não era qualquer pessoa que se queria meter naquilo.
Colector: Antigamente? Há muitos anos?
Informante: Não há muitos anos, filha. Pois eu teria para aí quê, 15, 16 anos, a avó já tinha trinta e tal ainda havia quem fosse. Mas era então assim, era por seis meses e não viam mais nada senão só mar e céu, não viam mais nada. Aqueles seis meses andavam à pesca daquele bacalhau, que agora já vão mas é diferente. Na altura aquele bacalhau era bom! E eles iam e contavam muitas vezes, pessoas que eram mais ou menos nossos amigos que contavam essa lenda da sereia. Que diz que aquele triste que tivesse a noção de ir ao canto daquela mulher, que era uma mulher.
Colector: Era só uma que tinha sido encantada?
Informante: Aquilo diz que eles ouviam, chegaram a ouvir uma ou duas vezes, daí a distância daquele mar bravo, que aquele canto, que era uma coisa que encantava. Tapavam logo os ouvidos [os pescadores] e era só com os olhos naquele bocado de mar. Era naquele bocado de mar que havia, que lá ficou muitos homens, que lá ficaram muitos homens como tua mãe está a dizer.
Colector: Que não tapavam os ouvidos e foram atrás do cântigo delas?
Informante: Iam atrás do canto delas. Dela, uma só, era uma sereia. Ainda cheguei a ver de longe…
Colector: Ao longe?
Informante: Ao longe, mas aquilo diz que é só de noite que aparecia, de dia não. Mas ela tinha uma luz a alumiar…
Colector: Tinha uma luz à volta dela?
Informante: À volta dela, por isso é que eles viam… mas ela não… diz muita gente… que quando a gente ouvia aquilo já sabia a zona que aquilo estava, tapavam logo os ouvidos, só viam, mas ouvir não.