APL 788 Santo Antão e as ovelhinhas
Santo Antão, antes de ser santo era pastor e casou-se. Só que, como já estava destinado a ser santo, Deus deu-lhe o poder de nunca pecar com a mulher. E nunca pecou. Nem dormiam sequer juntos. Por isso, também não tiveram filhos.
Ela ia levar-lhe o comerzinho aos prédios e aos montes por onde ele andava, e assim viviam. À noite ele lá vinha com as ovelhinhas. Até que um dia, acho que até era no Verão, ele não havia meio de vir. Antes de ir era costume dizer-lhe: venho a esta hora, venho àquela, venho às tantas... Mas agora nunca mais vinha. Ela esperou, esperou, até que foi à procura dele. Lá foi então e, coitadinha… foi encontrá-lo morto.
Começou a pedir socorro, pois antigamente andavam sempre outros também por lá com o gado. Havia pessoas que até tinham três cabradas. E lá lhe acudiram. Foram então buscá-lo e levaram-no para o povo, para a Desejosa [aldeia do concelho de Tabuaço], onde tem a capela.
Mas quando o encontraram, lá à beira do rio, o rio Távora, as ovelhinhas estavam deitadas debaixo dele. Ele estava com a cabecinha deitada no pescoço de uma ovelhinha. Veja só que o corpo do pastor não estava em contacto com a terra. Ora, aquilo que era? Já era milagre. E mais, quando o levaram para o povo, as ovelhinhas foram sempre atrás, sem ninguém as mandar, a berrar, a berrar, o caminho todo.
É por isso que ele é o santo advogado dos animais. A gente aqui tem muita devoção nele.
- Source
- PARAFITA, Alexandre Património Imaterial do Douro - Narrações Orais (contos, lendas, mitos) Vol. 1 Peso da Régua, Fundação Museu do Douro, 2007 , p.201
- Year
- 2007
- Place of collection
- Tabuaço, TABUAÇO, VISEU
- Collector
- Alexandre Parafita (M)
- Informant
- Maria da Purificação Fernandes Ferreira (F), 76 y.o.,