APL 666 O Bendito e Louvado e a «Magnificat»

São Jerónimo pediu a Nosso Senhor a graça de o matar com um raio.
 Nosso Senhor, para o satisfazer disse-lhe.
 — Sobe aquele monte, espera a trovoada e um raio te matará.
 São Jerónimo fez o que o Senhor lhe mandou: foi para o cimo do monte.
 A trovoada não demorou, e logo raios e coriscos começaram a cortar o céu!
Serenamente, Jerónimo, bem-aventurado e santo, entoou de joelhos e mãos postas o Bendito e Louvado e rezou a Magnificat. Assim acabaria a sua vida no respeito devido ao Senhor e na adoração a Deus eterno.
 Mas os raios passaram longe e não lhe tocaram. E o Santo ficou são e salvo!
 Resolveu Ele, por isso, voltar aos pés do Divino Mestre a contar-lhe o sucedido, e a queixar-se de que lhe não concedera a graça que lhe pedira!
 Respondeu-lhe Nosso Senhor:
 — Agarraste-te às minhas armas, como querias que os raios te matassem? Volta para o monte, mas não cantes o Bendito e Louvado, nem rezes a Magnificat!
 E o santo foi!
 E nova trovoada começou a aturdir o céu e a terra! Sucediam-se relâmpagos e trovões. Parecia o fim do mundo!
 São Jerónimo, cego na sua obediência, firme no seu propositado martírio, cumpriu as ordens de Nosso Senhor: calou-se! Não cantou o Bendito e Louvado, nem rezou a Magnificat.
 Novos relâmpagos alumiaram a terra e novas descargas amedrontaram os homens, até que um raio matou São Jerónimo.

 O povo diz, ainda hoje: onde se cantar o Bendito e Louvado ou rezar a Magnificat, e até onde os seus ecos chegarem, não cai raio ou peste; e por isso, logo que no horizonte surge trovoada, não há rua ou largo onde não se cantem ou rezem aquelas devoções. E ainda por isso, não só em Idanha-a-Nova como em toda a Beira Baixa, sempre que algum relâmpago fende o espaço ou trovão atormenta os ares, logo se ouve: — «São Jerónimo, Santa Bárbara bendita, no céu está escrito um raminho de água benta que Nosso Senhor nos livre desta tormenta».