APL 1395 Nossa Senhora, a lavandeira e a codorniz

No tempo em que os animais falavam, ia Nossa Senhora para o Egipto, com o Menino Jesus e S. José, para fugirem à ira de Herodes. Tentaram escapar debaixo do maior segredo para que os algozes implacáveis não os perseguissem. 
 A certa altura, já longe do povoado, começaram a ouvir uma voz que dizia assim:
 — Ela aqui vai! Ela aqui vai! Ela aqui vai!
 Maria e José olharam, olharam para todo o lado, mas não viram ninguém. Então S. José tocou a burrinha para que ela andasse mais depressa, porque tinha medo que fossem descobertos com aquela algazarra, num lugar deserto como aquele.
 Logo mais adiante tornaram a ouvir a mesma voz que dizia claramente, como da outra vez:
 — Ela aqui vai! Ela aqui vai!
 Ainda ficaram mais agoniados e assustados do que já estavam, sem saber o que era aquilo. Logo S. José reparou numa codorniz que vinha atrás deles e fazia toda aquela barulheira, enquanto seguia as pegadas, deixadas na terra do caminho pela burra e por S. José.
 Este pegou numa pedra para atirar à ave, mas, quando levantou a mão, reparou que atrás da codorniz, muito sorrateira, vinha uma lavandeira. Andava constantemente abaixo e acima e com o rabinho ia, com todo o cuidado, apagando as pegadas dos fugitivos.
 Assim os espiões de Herodes, sem qualquer sinal que os pudesse guiar, perderam o rumo seguido pela Sagrada Família, que continuou o seu caminho e, sem receio de perigo, chegou ao seu destino.
 A codorniz, como todos os maus, perdeu a cantiga e o seu tempo e teve como castigo nunca mais poder poisar em ramo verde.
 A lavandeira, que teve tanto trabalho a endireitar a terra com o rabo, ficou para sempre com o jeito de mexer-se constantemente abaixo e acima, abaixo e acima, para que, para sempre, se conhecesse a ave que ajudou a sagrada Família. Como evitou a má nova que a codorniz queria espalhar, passou a ser conhecida como a avezinha da boa nova.