APL 479 Lenda do sítio da mulher morta
O qu’eu sempre tenho ouvido, já da minha avó, dos meus bisavós, todos daqui destes sítios, tenho ouvido sempre assim: Na Quinta Feira da Ascenção a gente antigamente ia sempre pela religião católica e a minha família sempre dizia — não se lava na Quinta Feira da Ascenção, que é um dia muito santo, até porque se os passarinhos bem soubessem nem ao ninho iam. E há outro ditado que diz que é um dia tão santo, que na Quinta Feira da Ascenção coalha a amêndoa e nasce o pinhão.
Mas havia duas senhoras, duas comadres, e então uma era católica e a outra não era. E uma foi lavar à ribeira nesse dia. Aquela que não foi lavar disse assim ó comadre, mas então vocemecê vai lavar hoje, Quinta Feira da Ascenção, um dia tão santo?
Eh, então, pois a roupa está suja e eu vou lavar. E a mulher foi lavar. Mas em certa altura, quando estava a lavar, a mulher desapareceu. Ninguém mais soube fim nem mandado dessa mulher. Pronto.
Aconteceu que daí ficou sempre a Mulher Morta. Essa mulher desapareceu, ninguém soube contar mais fim nem mandado dessa senhora e daí, ficou esse dia, se até ai era santo, mais santo ficou.
Depois daí a gente (eu não, que já era mais nova), mas os meus familiares mais velhos como a minha mãe e a minha avó, diziam que ouviam à hora da missa, ao meio dia na Quinta Feira da Ascenção a mulher bater na ribeira, além. Diziam elas que era a bater a roupa.
Isto passou-se na ribeira da Mulher Morta, que é a ribeira que vem da Pereira e que vai desaguar ao rio da Mexilhoeira. Esse sítio passou a chamar-se “A Mulher Morta” depois que isso aconteceu.
- Source
- TENGARRINHA, Margarida Da Memória do Povo Lisbon, Colibri, 1999 , p.68-69
- Place of collection
- Mexilhoeira Grande, PORTIMÃO, FARO
- Informant
- Rosa da Conceição Furtado (F), born at Mexilhoeira Grande (PORTIMÃO),