APL 1324 A lavandeira, a codorniz e o tremoço
Há dois mil anos, ia Nossa Senhora, com o Menino Jesus ao colo, montada numa burrinha. Seguiam para o Egipto, fugindo ao Rei Herodes que tinha mandado matar todos os meninos até aos três anos de idade, para acabar com aquele que tinha sido profetizado como o futuro rei dos Judeus. S. José ia ao lado da burra, segurando-a pela corda.
Passaram, a certa altura, por um campo de tremoços e, como era Verão, as vagens estavam secas. Os grãos, com o calor, estalavam nas vagens, faziam uma grande barulheira e chamavam a atenção para os fugitivos. Então Nossa Senhora condenou o tremoço e por isso até hoje nunca deu grão que servisse para fazer pão.
Continuaram a andar e, mais adiante, uma codorniz espantada com a passagem da burrinha e começou a gritar
— Ela aí vai! Ela aí vai!
Nossa Senhora estava muito aflita porque tinha medo que descobrissem o seu filho e o matassem. Logo condenou a codorniz a nunca poder voar alto e foi tão justa na sua praga que até hoje a codorniz só faz voos rasteiros.
A lavandeira, vendo a maldade da codorniz, ia, ora atrás ora à frente, e apagava com o rabo e com o bico as pegadas todas que S. José e a burra iam deixando atrás de si.
Nossa Senhora apercebeu-se da boa acção da lavandeira e, muito agradecida, prometeu-lhe que os homens nunca lhe fariam mal. Assim se tornou um animal sagrado e por isso, ainda hoje, é pecado apanhar ou matar uma lavandeira que é a avezinha de Nossa Senhora.
- Source
- FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.153
- Place of collection
- Angra (Sé), ANGRA DO HEROÍSMO, ILHA TERCEIRA (AÇORES)