APL 1436 Lenda dos mil habitantes
A população do Corvo era sempre pouca comparada com a das restantes ilhas dos Açores, até porque era a ilha mais pequena e com um só aglomerado de pessoas, a Vila Nova do Corvo. Mas estava mesmo destinado que nunca havia de passar de mil habitantes.
Numa certa altura, o povo do Corvo tinha aumentado bastante e tinha chegado aos novecentos e noventa e nove. Todos estavam agoniados porque havia uma mulher que ia dar à luz e iam chegar aos mil habitantes, coisa que ninguém se lembrava de ter acontecido há muito tempo.
Chegado o tempo, aconteceu que a mulher, sem que ninguém estivesse à espera, deu à luz dois lindos gémeos, para alegria dos pais.
— Fulana teve dois gémeos! — disse alguém e as palavras passaram de boca em boca, até que todos no Corvo ficaram sabendo da novidade.
Alguns comentavam:
— O que será que vai acontecer agora que temos mil e um habitantes?
Mas nunca tinham afinal passado das mil pessoas porque, ainda antes do segundo gémeo nascer, tinha morrido um dos habitantes do Corvo, cumprindo-se assim o que estava destinado.
De então até hoje nunca mais os corvinos chegaram ao número fatídico e hoje essa ameaça está longe de pôr-se visto que a população não chega a quatrocentas pessoas.
- Source
- FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.289-290
- Place of collection
- Corvo, CORVO, ILHA DO CORVO (AÇORES)