APL 1727 O círio
No largo da feira, um dia de cada mês, passava uma procissão dirigida ao cemitério. Essa procissão era uma mulher de preto com um círio na mão. Todos os meses, naquele dia certo, e àquela hora certa, passava a procissão.
Num dia qualquer, um homem foi e falou, mas ninguém falou (respondeu).
- Ah! Deixa-me lebar este círio!
Pegou no círio e lebou-o para casa e deitou-o em cima duma mesa. Ele, admirado, pensou: Ah feito... que grande círio...
Quando chegou ao outro dia de manhã, vai lá ver e era um homem morto que lá estaba. Muito atrapalhado, muito aflito, foi-se confessar ao padre e o padre disse-lhe:
- Olha, recorre ao dia e à hora certa e num falhes! Pegas no círio e põe-no no lugar, que lá bai a ralueira, onde ele há-de ir. E pões lá o círio e bais-te embora.
O homem assim fez. Lá esperou por aquele dia.
Aqueles dias todos rezou, rezou, rezou por aquelas almas, porque entendeu que eram as almas do pergatório, que andavam a fazer penitência.
Foi lá pôr o círio no dia e na hora certa. E daí por diante, nunca mais passou a procissão, nem viu ninguém.
- Source
- AA. VV., - Literatura da tradição oral do concelho de Vila Real s/l, UTAD / Centro de Estudos de Letras (Projecto: Estudos de Produção Literária Transmontano-duriense),
- Place of collection
- Justes, VILA REAL, VILA REAL
- Informant
- Arcília da Conceição Pereira (F), 72 y.o., Justes (VILA REAL),