APL 956 A procissão de velas
Nas aldeias, a criação de gado era um dos trabalhos que ocupava as pessoas. Ao fim da tarde, ordenhavam-se as vacas e o leite era levado para o posto. Como acontecia todos os dias, a minha avó, quando era moça, foi tirar o leite e levou-o ao posto. Porque era Inverno e anoitecia cedo, foi na companhia de um irmão.
Ao sair do posto, começou a chover e os dois tiveram de se abrigar na casa de um parente. Acabaram por jantar e aí esperaram que a chuva parasse. Até que o tempo melhorou um pouco e decidiram voltar para casa, pois era quase meia-noite e tinham ainda uma grande caminhada pela frente.
Deu meia-noite quando eles passaram junto do cemitério. A minha avó ia pelo meio da estrada e de repente sentiu darem-lhe um soco no cântaro que trazia à cabeça. O cântaro voou de tal forma que ela nunca mais o encontrou. Os dois irmãos ficaram tão assustados com aquilo que desataram a correr para casa. Quando, chegaram, disseram à mãe o que tinha acontecido e ela contou-lhes que à meia-noite saía a procissão de velas da igreja para o cemitério e nunca se deveria andar pelo meio da estrada, pois as almas podiam não gostar de ver gente a impedir-lhes o caminho.
Dali em diante, a minha avó nunca mais andou à meia-noite pelo meio da estrada, pois tinha medo que lhe voltasse a acontecer o mesmo. E dá-nos sempre esse conselho.
- Source
- AA. VV., - Literatura Portuguesa de Tradição Oral s/l, Projecto Vercial - Univ. Trás -os-Montes e Alto Douro, 2003 , p.AP19
- Year
- 2000
- Place of collection
- Ponte De Lima, PONTE DE LIMA, VIANA DO CASTELO
- Collector
- Elisabete Sousa (F)