APL 957 A irmandade das almas
Dizem os mais antigos que existem pessoas que possuem um dom muito especial para a sorte ou o infortúnio.
Lá para os lados de Paredes de Coura, terras de grande crença religiosa, conta-se que as crianças, quando eram baptizadas, se os seus padrinhos de baptismo se enganassem na oração do credo, elas passariam a ver as irmandades das almas e anteviam a morte das pessoas.
Conta a D. Etelvina que um dia, quando era jovem, se encontrava à janela vendo quem passava na rua, quando um seu tio a mandou recolher para dentro de casa. Não muito contente, perguntou ao tio porquê. Ele explicou-lhe que vira sair de uma capela próxima a irmandade das almas que seguia num funeral.
Sem perceber muito bem, a D. Etelvina disse-lhe que não estava a ver sair nenhum funeral da capela e que não tinha conhecimento de que alguém tivesse falecido por aqueles dias. Explicou-lhe o tio que a pessoa ainda não morrera. Ele via as almas das pessoas que faziam parte das irmandades dos cortejos fúnebres e também a alma de quem iria morrer em breve.
Por curiosidade, ela perguntou quem iria morrer. Mas não obteve resposta, pois quem vê isto não pode revelar a identidade do falecido, se não quem morre há-de ser a pessoa que vê.
- Source
- AA. VV., - Literatura Portuguesa de Tradição Oral s/l, Projecto Vercial - Univ. Trás -os-Montes e Alto Douro, 2003 , p.AP20
- Year
- 2002
- Place of collection
- CAMINHA, VIANA DO CASTELO
- Collector
- Denisa Barbosa (F)
- Informant
- Etelvina Braga de Passos (F), 91 y.o., CAMINHA (VIANA DO CASTELO),