APL 1192 A caveira

Fulano encontrou, no cemitério, em dia de enterro, uma caveira; pouco respeitador pelas coisas sagradas, pôs-se a escarnecer daquelas órbitas profundas e da bôca escancarada; dando-lhe um pontapé, disse aos companheiros «olhai que Boca para comer uma lauta ceia!» Eram altas horas da noite, estava com um grupo de amigos a cear, quando bateram à porta. «Que entre quem tem fome!» exclamaram todos. E eis que surge na sala um velho ancião vergado ao pêso dos anos, cabelos brancos, barba esquálida, olhos scintilantes, o qual, dirigindo-se ao Fulano, falou assim: — «Não me conheces?» E êle, estupefacto, aterrado, pálido, respondeu: — «És meu pai!» Havia morrido há muito tempo. — «Respeita as coisas sagradas, disse-lhe; o pontapé que me deste magoou-me bastante; dentro de alguns dias serás caveira como eu». E saiu. Passados, poucos dias: os sinos da igreja paroquial tangiam a finados. Era o entêrro do infeliz mancebo...

Source
MARTINS, Pe. Firmino Folklore do Concelho de Vinhais. Vol. 1 s/l, Câmara Municipal de Vinhais, 1987 [1928] , p.84-85
Place of collection
VINHAIS, BRAGANÇA
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography