APL 371 A pieira dos lobos
Conta a lenda que existia em Refoios, no tempo da primeira monarquia, um senhor “bonitão” que deixava todas as moças encantadas.
Afonso Ancesmondes assim se chamava, era muito inconstante nos seus amores, mas mesmo assim, nunca deixou de amar a todas da mesma forma.
Certo dia, a tristeza invadiu-lhe o coração.
Para espalhar essa tristeza, resolveu ir à caça de ursos que abundavam nos montes da Labruja.
Ao anoitecer, quando se preparava para regressar, avistou um lobo e logo se apressou a fazer-lhe pontaria.
Disparou uma seta que atingiu o animal. O lobo fugiu espavorido, mas o cavaleiro perseguiu-o até a fera desaparecer entre os penedos.
Ancesmondes caiu desamparado e ficou sem sentidos.
Quando voltou a si, viu-se numa gruta rodeado por uma donzela coberta de peles de corça que acariciava o focinho de um lobo.
Ancesmondes, perante esta imagem, que mal conseguia distinguir no meio dos restos de uma fogueira que aquecia dois lobos velhos, sentiu que esta cena tinha sido preparada por algum espírito mau, para ele.
A donzela quando o viu, abriu os olhos e disse-lhe que tinha vindo em má hora, pois para ela era a sétima lua - a mais fatal de todas - e perguntou-lhe se seria ele o libertador que ela esperava há tanto tempo.
Perante isto, Ancesmondes viu que a donzela era uma pieira de lobos (a última de sete filhas seria pastora de lobos e teria de viver nas montanhas).
Achou que era manha da parte dela e chamou-lhe impostora, dizendo-lhe que não falaria assim se em vez dele, estivesse presente um dos seus “locais”.
Mas, de repente a pieira transformou-se num misto de anjo e de demónio, de rainha e de selvagem, de uma beleza extraordinária, que deixou Ancesmondes admiradíssimo.
Então ela explicou-lhe que não lhe dizia quem era porque não valeria a pena, pois o seu fadário só poderia ser quebrado com o amor de um cavaleiro fiel.
Ancesmondes arrependido e compreendendo então como é que ela se dava tão bem com os lobos, pediu-lhe perdão de joelhos.
Não se sabe o que se passou a seguir. Apenas se conta que Ancesmondes desapareceu depois de dar tudo aos pobres.
E, anos depois, o povo dizia que a alma penada do fidalgo saía da torre todos os anos, durante sete noites e se dirigia para as montanhas.
- Source
- S/A, . Ecos do Passado Ponte de Lima, NAP / PIPSE, 1992 , p.31-32
- Place of collection
- Refóios Do Lima, PONTE DE LIMA, VIANA DO CASTELO