APL 157 A cruz do preto dos almendres
Bom, o caso começou por aqui...
Havia um preto ali, naquele monte. Foi criado ali de pequenino, de qualquer maneira - no tempo da guerra, as pessoas fugiam; cada qual ia para onde podia, não é? - Criou-se por ali e... e havia umas tabernas na Boa Fé. E o homem ia todos os fins de semana, quando era homem, para a taberna e... levava um engenho para que os lobos não o comessem. Levava uma corda. Levava-a enrolada, de qualquer maneira e seguia. E chegava lá o pé desse dito monte, ao escurecer, onde era a taberna, escondia-a. E os outros: “Então tu não tens medo dos lobos, logo quando abalares’?”. “Eu não, não tenho medo de nada... não tenho medo de nada.”
Um dia, um outro homem viu ele esconder a corda. Um problema. Viu ele esconder a corda e tirou-a. Às tantas, a taberna fecha, lá por essa noite velha. O preto à cata da corda: “onde é que está a corda?... Onde é que ela está?... Bom, seguiu. O “parrito” seguiu, seguiu... chegou mesmo ao pé do cromeleque. E chegou aí, os bichos venceram-no; comeram-no. Os lobos comeram-no. Bom, no outro dia de manhã, - havia aquele homem que era o mais indicado, chamava-se o ganhão, para chamar o pessoal, para ir almoçar, para ir para o trabalho - o ganhão perguntou pelo preto: “Então o preto? Então o preto não veio? O preto não apareceu?” O que seria do preto? Logo a ideia deles foi que os lobos o tinham comido, não é verdade? Pois nada mais natural; foi mesmo assim.
Assim que amanheceu, lá vai o ganhão. Lá vai pelo caminho por onde ele vinha... Antes de começar a ver, encalhou num sapato. “Olha cá está o sapato do preto.”
Os lobos comiam a pessoa inteira, mas não comiam a parte onde apanhasse sapato, não comiam.., ficavam só os pés das pessoas.
Mais tarde, o conselheiro do rei mandou fazer uma cruz. Essa cruz, que é hoje a Cruz do Preto, está ao pé do cromeleque, mesmo ali, a cem metros desviada do cromeleque dos Almendres.
- Source
- AA. VV., - Lendas e Tradições Evora, EBM's de Guadalupe, S. Sebastião da Giesteira e Valverde, 1999 , p.9-10
- Place of collection
- Nossa Senhora De Guadalupe, ÉVORA, ÉVORA
- Informant
- Manuel Fabrício Coelho (M), 64 y.o., Nossa Senhora De Guadalupe (ÉVORA),