APL 1813 [O Sítio do Carapeto]

 Bom isto passou-se… há muitos anos, que me contavam quando eu era até rapaz. Mas depois disso ouvi falarem essas coisas. Parecia aqui o caso que eu vou contar.
 O homem ia para o trabalho, eram aí umas quatro da manhã; começavam o trabalho muito cedo nas lavouras, que faziam antigamente. Hoje a gente vê essas terras abandonadas, mas isso não havia nada abandonado, isso era tudo, tudo semeado, tudo produzia, tudo. E então o homem tinha que ir muito cedo, lá para a casa onde ia trabalhar. Começavam a trabalhar de manhã, ainda não se via bem. E aquilo eram umas quatro horas e o homem ia num sítio que lhe chamavam Carapeto, que era muito perigoso. Havia umas árvores enormes onde havia umas alfarrobeiras com umas tocas que cabiam duas ou três pessoas lá dentro. E tinha fama que apareciam coisas, aparecia isto, que aparecia aquilo. E naquela noite, o homem ia andando, (pois claro!) e começa-se a sentir mal. Aquela coisa do sangue a correr, a correr, a sentir-se mal, os cabelos a endireitarem-se na cabeça. E o homem:
 - Ai meu Deus! Mas o que é isto? Mas o que é isto?
 Era um rapaz novo ainda, também, era um homem de trabalho. Bom, quando ele olha e vê uma rapariga ao lado dele; linda com uns cabelos que lhe davam ás costas, uma cara linda de mulher.
 E ele vá de andar, quanto mais ele andava, mais ela andava ao lado dele. Ele queria-lhe dirigir a palavra, mas não saía a palavra, não saía da boca. O susto que o homem levava, não conseguia falar. E assim ia na (…) quando ele olha bem para a mulher, olhou para as pernas e vê aquelas coisas, (que vocês já viram cabras, não viram? Aquelas pernas de cabra, com a unha em baixo!) era[m] as pernas dela, eram assim. O homem estava quase a dar-lhe uma coisa, quando ouve cantar um galo, mesmo próximo de umas casas que havia lá p’ra os lados de umas fazendas. O galo cantou, e ela desapareceu! E ele ficou ali, diz que não sabe quanto tempo, parado, sem poder nem andar, nem para trás, nem para a frente. Até que lhe passou aquilo e seguiu, foi para o trabalho. O homem quando chegou a contar aos camaradas o que se tinha passado, ninguém acreditava, mas ele nem podia quase falar. Então contou isso, que foi no Sítio do Carapeto. (Sim senhora!)

Source
AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,
Year
1996
Place of collection
OLHÃO, FARO
Collector
Dulce Quintino (F)
Informant
Joaquim Rodrigues Zeferino (M), 80 y.o., OLHÃO (FARO),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography