APL 3613 A lenda de Dona Chama (versão A)
No alto do monte erguia-se uma torre que era habitada por uma linda princesa moura, afamada pelas suas extraordinárias riquezas e ainda mais pela sua beleza incomparável. Quando algum cavaleiro se dirigia às sentinelas da torre, solicitando licença para falar à princesa, as sentinelas, trazendo o consentimento da castelã, traduziam-no invariavelmente pela fórmula: A dona chama.
Cavaleiro que entrasse na torre, da torre não tornava a sair. Um denodado cavaleiro, mais feliz do que os outros, porque logrou sair são e salvo do empreendimento de que tantos nunca escaparam, pôde, depois de adormecida a princesa, tirar-lhe de um dedo um anel; levantou-se da cama com todo o cuidado para não a acordar e, chegando até às sentinelas que lhe quiseram embargar a passagem, mostrou-lhes o anel, sinal certo de indissolúvel aliança. Convencidas as sentinelas deixaram-no passar. A princesa, depois de acordada, não vendo o cavaleiro, gritou pelas sentinelas, que a informaram do sucedido.
— Está descoberto o meu segredo! — exclamou a princesa, ficando em seguida encantada juntamente com os seus tesouros.
A princesa, corno era incontinente, recebia sempre os cavaleiros que a procuravam; depois para que não descobrissem o seu segredo - a princesa tinha pernas de cabra -, mandava-os matar. Se não fosse a astúcia do último cavaleiro, nunca se alcançaria saber que a linda moira que habitava a torre era
Dona Chamorra,
pernas de cabra,
cara de senhora.
- Source
- PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.268-269
- Year
- 1895
- Place of collection
- MIRANDELA, BRAGANÇA
- Collector
- Joaquim de Castro Lopo (M)