APL 634 Lenda da Moura do Souto Vale
Era uma noite negra de inverno.
O vento assobiava por entre os pinheiros, ao mesmo tempo que os trovões se sucediam. Os relâmpagos alumiavam de vez em quando, a serra.
Chovia torrencialmente.
Alguém bateu à porta de um casebre do Souto do Vale, onde vivia uma pobre velha.
— Acuda, boa mulher, preciso que venha assistir a quem vai dar à luz.
Resmungando, a velha, abriu a porta e fazendo os preparativos saiu à rua, guiada pelo homem a chamava.
Andaram algum tempo, zurzidos pela chuva que encharcava até aos ossos, tocada como era pelo vento.
— É ali, naquela Gruta!
Era uma gruta cavada na rocha, escondida entre pinhais.
Dentro, uma bela moura. Gemia, nas angústias de parturiente.
A velha persignando-se, aflita, aprestou-se nos trabalhos de assistir ao parto.
Nascida a criança, o homem que acompanhara a velha, deu-lhe como paga uma saca de carvão.
— Raios — praguejou a velha — tem uma pessoa um trabalho destes e a paga é ter que carregar com o carvão.
Meteu-se a velha no caminho de regresso e notou que a saca estava rota e que ia perdendo carvão.
— Ora ainda bem! E da maneira que não vou tão carregada!
E o carvão foi-se perdendo!
Chegada finalmente a casa, encharcada, a velha pragueja contra a sorte.
Ao poisar a saca quase vazia, a velha admirou-se ao ver que o carvão se transformara em moedas de ouro.
Sobressaltada, voltou a velha atrás em busca do carvão perdido pela serra abaixo, certo que iria encontras mais ouro, mas qual o seu espanto ao encontras mais nada do que carvão molhado.
Desanimada prosseguiu o caminho, direito à mina, mas da moura nem rastos. Desaparecera!
- Source
- BARRETO, Kalidás Monografia do Concelho de Castanheira de Pera Castanheira de Pera, Câmara Municipal de C. Pera, 2001 , p.247-248
- Place of collection
- OLEIROS, CASTELO BRANCO