APL 2922 [Os borborinhos]

Os borborinhos são almas perdidas do mundo. Almas perdidas porque parece gente a murmurar, muitas vozes, assim, juntas. Uma vez estava nas Naves, (é um couto pegado ao Vale Feitoso perto da raia com a Espanha) com teu avô, fomos cortar milho para lá. E ali ao meu pé começou um borborinho e começei a gozar com ele «Icha saleiro! Icha saleiro!», que era uma cantiga que cantávamos naquele tempo. De repente, tive-me que agarrar a uma árvore porque começou tal ventania que parecia que me queria levar. Tive que começar a rezar uma reza. Era uma que a tua bisavó me ensinou:

Foge, veneno da Cruz,
que lá vem o Menino Jesus
com uma faca amarela
que t’a espeta na goela.»»

E «Credo Abrenúncio. Credo, Abrenúncio»,
repeti estas rezas até o borborinho desaparecer.

Source
SALVADO, Maria Adelaide Neto Remoínhos, Ventos e Tempos da Beira s/l, Band, 2000 , p.44
Year
1994
Place of collection
Castelo Branco, CASTELO BRANCO, CASTELO BRANCO
Collector
Célia Sofia Ribeiro (F)
Informant
Olívia Martins Ribeiro (F),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography