APL 1336 Vai-te com o Diabo!
Era uma vez uma mulher do Guadalupe, na Graciosa, que ia casar uma filha em poucos dias. Estavam a fazer as cozeduras e, com todos os preparativos, a mulher já tinha gasto muito do pouco que tinha. E que para casar uma filha são gastos e mais gastos.
Numa certa altura, a mulher já estava farta de puxar pela carteira e, arrenegada, virou-se para a filha e disse:
— Vai-te com o diabo, rapariga, que me levas tudo o que tenho!
Ninguém prestou atenção a estas palavras, mas passado pouco tempo, quando foram pela rapariga, não a encontraram em casa nem na vizinhança.
Toda a gente ficou muito aflita, principalmente os pais e o noivo.
Começaram então a procurar em lugares mais distantes até que, sem saber mais onde procurar, foram para a serra e chegaram junto de um algar a que chamam de Caldeirinha. Desceram o mais depressa que puderam a vereda perigosa que conduz até à entrada de forma arredondada que conduz não se sabe onde. Ainda mais surpresos e aflitos ficaram, quando viram ali as galochas da rapariga e acreditaram que ela estava dentro da Caldeirinha.
Foram buscar cordas muito fortes, ataram-nas umas às outras e o noivo amarrou-se. Cheio de medo, por não saber o que ia encontrar lá dentro, foi descido pelo buraco escuro e medonho. No fundo encontrou a infeliz rapariga, tremendo de medo e aparvalhada. Amarrou-a também com as cordas e lá subiram os dois.
O pior estava passado. Mas quando questionaram a rapariga como tinha ido ali parar, ela não sabia ao certo. Então a mãe lembrou-se da blasfémia que tinha dito, tendo-a entregue ao diabo. Ele, que anda sempre à procura de almas, levara-a logo para o lugar onde se costumava esconder, a Caldeirinha.
- Source
- FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias Ponta Delgada, Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.169
- Place of collection
- Santa Cruz Da Graciosa, SANTA CRUZ DA GRACIOSA, ILHA DA GRACIOSA (AÇORES)