APL 837 Lenda do moinho das “Calhondras”
Antigamente, havia um moinho — hoje chamado “moinho das calhondras” mas só já há uns vestígios — junto a uma ribeira. Havia lá um moleiro que trabalhava noite e dia para moer o pão dos clientes. Uma noite, o moleiro estava a preparar a ceia — um bocadinho de toucinho que estava a assar numa fogueirita. Nessa altura, apareceu um homem pela porta dentro, sem que o moleiro o conhecesse ou soubesse de onde veio. Esse dito homem trazia uma espetada de calhondras [cobras de água] que começou a assar no lume do moleiro, pela parte de cima do toucinho do outro e dizia assim:
— Pingo, pingo
Para cima
Do toucinho
Do moleiro
O moleiro retirava o toucinho para não ficar enxovalhado com a gordura das calhondras, mas depois voltava a pôr a sua assadura ao lume e o outro voltava a pôr a das calhondras pela parte de cima. O moleiro já estava aborrecido. O homem das calhondras, a dada altura perguntou ao moleiro:
— Que circunferência tem este moinho?
O moleiro, com o espeto do toucinho, indicou a largura e o comprimento, dizendo:
— Olhe; tão largo é daqui para ali, como dali para aqui; e formou uma cruz. O que tinha a espetada das calhondras, ao ver aquilo, deu um estoiro e desapareceu...
- Source
- VILHENA, M. Assunção Gentes da Beira Baixa Lisbon, Colibri, 1995 , p.102-103
- Place of collection
- PROENÇA-A-NOVA, CASTELO BRANCO
- Informant
- José Pereira Alves (M), 74 y.o., PROENÇA-A-NOVA (CASTELO BRANCO),