APL 2928 [esponjinhos]

Vi muitos esponjinhos. Olhe, vou contar-lhe um drama dos esponjinhos... Então, era no moinho de vento, o moinho a trabalhar. Eu andava a trabalhar, estava dentro do moinho. O meu pai ainda era vivo, e ele estava sentado num sitio onde via o moinho. E o moinho estava a trabalhar e ele ouviu um barulho mas não sabia dizer o que era o barulho. Ó depois, viu, quando olhou para o cabeço, viu os pinheiros todos a estrocer-se e disse: “Ai de mim que o esponjinho vai ter ao moinho.” E foi memo! Foi ele acabar de dizer. Estroceu a vela do moinho e veio tudo para o chão. Eu tava ao pé da pedra. O moinho não andava muito depressa. Estava à frente da pedra assim para apanhar a farinha. Só fez aquilo: Iaaa...! Só agachei-me assim.
Não tive tempo de nada. Ficou tudo parado. Venho cá fora. Estavam lá os panos tudo no chão, esfarrapou a roupa e calou-se. O vento calou-se naquela altura logo. O danado do esponjinho tem uma força enorme. Não sei o que vai lá. Dizem que está lá o diabo dentro. Dizem, mas aquilo é o vento que mete-se por um vale dentro de outro e quando se encontra, é que faz aquele remoinho, ganha aquela velocidade tão grande. Chegava a pegar naquilo que se ceifava e estralhassava aquilo tudo. E quando há mais esponjinhos é quando tá o vento suão e ele está voltado para o norte. Claro, quando há mais esponjinhos é quando vento está norte a ir p’ró suão ou quando ele está suão para o norte.

Source
SALVADO, Maria Adelaide Neto Remoínhos, Ventos e Tempos da Beira s/l, Band, 2000 , p.56-58
Year
1994
Place of collection
Mação, MAÇÃO, SANTARÉM
Collector
Anabela Duarte Bento (F)
Informant
José Alves (M), 74 y.o.,
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography