APL 2916 [esponjinhos]
Quando eu ainda era cachopo novo, ia ajudar o meu pai na lavoura. Lembro-me de ver muitos esponjinhos, mas um dia vi um tão grande que tive medo. Era outono e havia muitas folhas no chão lá da tapada onde eu estava. Começo a ver as folhas a andarem à roda, â roda, cada vez mais folhas se iam juntando e começou a alargar, a alargar... Eu, naquela altura, benzi-me e fiz uma cruz com os braços. De repente, aquele zzz,zzz,zzz era cada vez mais forte, e o esponjinho começa a subir, a subir até que desapareceu por completo lá muito no alto.
Quando se via um esponjinho, tínhamos que fazer o sinal da cruz, porque senão eramos levados para o meio dele e desapareciamos com o esponjinho.
Dizia-se que lá no meio andava o diabo, e quem o quisesse matar tinha que deitar lá para o centro do remoinho uma laje fininha molhada com cuspo. Uma laje é uma pedra muito fina de forma achatada que se encontra nas ribeiras e nos rios. Eu nunca experimentei deitar a laje, mas diziam que era verdade que a laje até ficava com marcas de sangue do diabo.
- Source
- SALVADO, Maria Adelaide Neto Remoínhos, Ventos e Tempos da Beira s/l, Band, 2000 , p.37-38
- Year
- 1994
- Place of collection
- Salgueiro Do Campo, CASTELO BRANCO, CASTELO BRANCO
- Collector
- Cristina Maria Martinho (F)
- Informant
- Manuel dos Santos Azevedo (M), 75 y.o.,