APL 1632 A caveira a rir

Uma noite ia um aldeão por ao pé do adro da Igreja, quando viu uma caveira. O homem, que era destemido disse para ela que lhe não tinha medo.
 “Pois, se me não tens medo, leva-me para tua casa” — retrocou a caveira.
 “Levo, levo.”
 O homem levou a caveira para casa e pô-la sobre a cornija do forno. Por mais que a mulher lhe pedisse que tirasse dali a caveira, o marido não se demovia, respondendo que lhe não bulisse.
 A mulher andava transida de medo, e para ver se se livrava das coisas más que a caveira podia trazer com ela, fez grandes defumadouros com alecrim em toda a cozinha, mas no meio desta operação ouviu a caveira a rir às gargalhadas.
 “Porque te estás tu a rir?” — perguntou a mulher.
 “É porque quando começaste a queimar o alecrim eram tantos os diabos pela porta da cozinha fora, que eu não pude deixar de rir da figura que eles faziam. Mas eu ainda cá fico.”

Source
SARMENTO, Francisco Martins Antígua, Tradições e Contos Populares Guimaraes, Sociedade Martins Sarmento, 1998 , p.120
Place of collection
GUIMARÃES, BRAGA
Informant
Margarida (F),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography