APL 3790 [Os Perus que eram Mouros]

Dava meia noite na ocasião em que um sujeito, já falecido, passava sob o arco da Senhora do Pilar, arco este que noutra época fixa uma das portas do castelo desta vila. O indivíduo sentiu bater-lhe o coração à última pancada do relógio.
    De repente viu-se ele no centro de um rebanho de perús com o seu monco escarlate. Inspirado de um mau pensamento pensou que podia facilmente roubar um ou dois perús a seu salvo e sem que ninguém o visse. Correu em direcção do melhor perú, que se lhe escapava ardilmente. Por fim já não escolhia, atirava-se ao que estava mais perto. Nada conseguiu: os perús escapavam-se-lhe. Deixou-os e dirigiu-se para sua casa.
    No dia seguinte, uma pessoa, que mora ainda na Rua da Corredoura, chamou o sujeito.
    — O que me quer?
    — Dar-lhe os parabéns: livrou-se ontem à noite de um desastre.
    — Não compreendo...
    — Julgava que corria atrás de perús... e enganava-se.
    — Brincadeira minha...
    — Uma brincadeira que lhe podia ser fatal. Julgou que eram perús e enganou-se.
    — Então o que eram?
    — Mouros encantados. Dirigiam-se para a grande sala, que se acha sete varas abaixo do prédio de D. Victória Faísca.

Source
OLIVEIRA, Francisco Xavier d'Ataíde As Mouras Encantadas e os Encantamentos do Algarve Loule, Notícias de Loulé, 1996 [1898] , p.89-90
Place of collection
LOULÉ, FARO
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography