APL 272 O penedo rebolão

No monte da Citânia, houve, em tempos muito antigos, um grande penedo, polido e redondo como bunho do mar, è, por vezes, tão leve que nem fio de lã.
 Este penedo era o encanto e a perdição dos rapazelhos que olhavam pelo gado lá por aquelas encostas. Chamavam-lhe o penedo rebolão.
 Grande segredo estava atado àquela pedra. Retirada do seu lugar, parecia que tinha mafarrico. Dava gosto, pasmava-se vê-la rebolar em várias direcções, voltando ao lugar donde a tinham retirado.
 O penedo era desta maneira o brinquedo acostumado dos pequenos pastores. Punham-na a rolar, equilibravam-se em cima dela. A pedra parecia saber brincar com eles sem nunca os ferir ou esmoucar.
 Isto sucedia hoje e amanhã, até que, numa bela tarde, um lavrador de Negrelos, que vinha das bandas de Eiris, carreou o penedo sem pedir licença aos rapazes. Estes esperavam que a pedra voltasse para trás. Mas o carro lá se foi com o Rebolão em riba.
 Ao chegar à ponte de Negrelos, o lavrador jogou o penedo ao rio. Das águas revoltas ergueu-se uma jovem encantadora.
 O lapónio, ainda apalermado com o que via, pôde ouvir:
 — Quebraste-me o encanto. Há muito que isto devia acontecer. Adeus, que vou para a minha terra.
 Ninguém mais dera notícia daquela formosa mourinha.

Source
AA. VV., - Douro Litoral, 5ª Série, IX n/a, s/ed., 1953 , p.69
Place of collection
PAÇOS DE FERREIRA, PORTO
Narrative
When
20 Century, 50s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography