APL 268 A fonte da moira
Há muitos, muitos anos, indo um mancebo abrir a presa da fonte da moira, na encosta da Citânia, encontrou uma linda moira a lavar enxadas, correntes, engaços, que de amarelinhos mais pareciam de oiro.
Quando o moço, algo admirado, sé preparava para esvaziar a presa; a jovem pediu-lhe por boas palavras que esperasse uns momentos para acabar aquela cuidadosa ou estranha limpeza das alfaias que tinha à sua volta.
Porque julgasse que a sua alminha iria penar, se acaso acedesse ao pedido, o rapaz, mais amarelo do que um rolo, deixou a presa aberta e foi-se lesto embora, sempre a olhar para trás, que aquilo estava visto: só obra do demónio!
Como era de supôr, a lavadeira não ficou contente, e, entre as suas palavras de maldição, prometeu que nunca mais ninguém chegaria a regar com água daquela fonte…
O castigo não tardou…
Dias depois, o rapaz voltou de novo à presa, abriu o buraco, rego além, até aos lameiros de Bouça-monte, à espera da água que soltara. Mas a vingança da moira...
Lá na funda, o mocetão esperou, esperou muito tempo, mas água... de grilo! Desesperou-se. Resolveu então voltar à presa e, à medida que ia seguindo o rego, mais se admirava por ver que este estava simplesmente orvalhado.
Porém, o seu espanto foi maior ao reparar que a presa tinha pouca água e a ainda escorria logo ali perto se escapava por uma fisga do lajedo!...
Sem saber o que fazer, o moço camponês olhou em redor, falou sózinho e repetiu muito devagar algumas das palavras da moira — ... nunca mais ninguém regará com esta água... nem uma erva...
É curioso que ainda hoje, como naqueles tempos, a água da fonte da moira não tem aproveitadoiro... pois desaparece a poucos passos da nascente.
- Source
- AA. VV., - Douro Litoral, 5ª Série, IX n/a, s/ed., 1953 , p.65-66
- Place of collection
- PAÇOS DE FERREIRA, PORTO